Uma máquina fotográfica antiga, uma escada, um urso de pelúcia, um anão de jardim. Variados objetos aparentemente sem relação entre si compõem a exposição Vizi – Clube Social da Unidade da Vizinhança, aberta na noite desta terça-feira (09), no museu Murillo La Greca, dentro da programação do Amplificadores 2008 e do SPA das Artes. Mais do que apresentar um conceito artístico dos objetos, a exposição destaca o valor sentimental que eles têm para seus donos – vizinhos e funcionários do museu.

Assinada pelos artistas brasilienses Krishna Passos, Gisel Carriconde e Maicyra Leão, a mostra se inspirou no projeto original de Lúcio Costa, que procurava promover a interação entre os moradores nos Clubes de Vizinhança – Em Brasília, do centro do avião para o norte e o sul há, respectivamente, a Asa Norte e a Asa Sul. Cada asa é composta por um conjunto de superquadras. Uma superquadra corresponde a um conjunto de 11 apartamentos. Quatro superquadras encerram uma Unidade de Vizinhança. A primeira Unidade de Vizinhaça foi criada em 1961, entre as superquadras 108/109 sul.

O acervo da exposição é composto por doações de vizinhos, funcionários do museu, amigos e desconhecidos. Para cada objeto, um relato sobre seu valor sentimental, histórias diversas que remetem a lembranças e afetos. A idéia inicial era trabalhar com a vizinhança do museu algo que fosse de afeto pessoal. Acabamos conhecendo várias pessoas que moram aqui, como catadores de papel que vivem embaixo da ponte, todos com muita história pra contar, revelou Gisel Carriconde. É um trabalho muito orgânico. Uma exposição de todo mundo, um gabinete, um museu da memória da pessoa, definiu a gerente de serviços do Murillo La Greca, Bete da Mata.

A areia espalhada pelo piso do museu criou a idéia de um sítio arqueológico, onde os objetos, um a um, são descobertos, evocando histórias passadas e traçando uma etnografia espontânea. Desde a abertura da mostra, Maicyra Leão esteve literalmente enterrada na areia, refletindo a humanidade a ser descoberta. Nesse cenário, os objetos e suas legendas saltam aos olhos do público, chamando atenção pelas histórias de pessoas diversas e suas recordações. Como a de José Adriano, que conta como usou um mapa escolar para conhecer o Brasil, mesmo sendo analfabeto. Ou de Maria de Lourdes, que foi ao interior do estado especialmente para buscar a máquina de costura em que a mãe lhe ensinou o ofício. Personagens marcantes como Jane Barbosa que doou a máquina fotográfica que ganhou do marido quando tinha 27 anos e um anão de jardim que fora quebrado por uma amiga com quem não fala até hoje.

Histórias que também puderam ser compartilhadas pelo públlico, que ganhou uma parede para escrever ou desenhar o que quisesse. O desenhista Victor Zalma aproveitou para deixar sua impressão sobre o tema da mostra, bastante elogiada por ele. Parece que tudo fica bonito por meio de objetos que trazem uma lembrança, falou. A visitação está aberta até o dia 10 de outubro, de terça a sexta, das 9 às 17h, e aos sábados de 14 às 17h. A entrada é franca. Outras informações pelo fone 3232.4276.

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