Um público diferenciado, formado, basicamente, por amantes do reggae, acompanhou, nesta quinta-feira (24), a programação natalina oferecida pela Prefeitura do Recife no Pátio de São Pedro, no bairro de São José, na região central da Cidade.  Subiram ao palco, entre 19h e meia noite, os mais expressivos grupos pernambucanos ligados ao ritmo jamaicano, como Meninos do Reggae, Brasáfrica, N´Zambi e Favela Reggae, entre outros. O resultado foi um grande baile rastafári com direito a roupas coloridas, penteados de longas tranças e músicas com forte conteúdo de engajamento social.
 
Primeiro grupo a se apresentar, a banda Brasáfrica, de Casa amarela, mostrou um reggae dançante, original e de sotaque bem pernambucano. O vocalista e líder do grupo, Gildo Brasáfrica, explicou que a proposta de seus 10 componentes é ressaltar as questões sociais e o desrespeito à natureza. “Esse perfil pode ser facilmente identificado nas nossas principais gravações que integram os CDs “Reggae da paz”, em homenagem à Dom Helder Câmara, e “Terra em Chamas”, de denúncias às agressões ao meio ambiente”, explicou.
 
Também de Casa Amarela, Marcelo Santana e a banda “Trindade DUB”, mostraram um reggae de raiz com forte influência urbana, com músicas de arranjos simples, cantadas quase em coro pelo público presente. “Nossas composições  `A Flor de meu jardim`, `Sensibilize` e `Lembranças` são facilmente reconhecidas pelo público que nos prestigia, afinal, estamos na estrada desde 1981”, contou Marcelo, com entusiasmo. Segundo ele, a Prefeitura está no caminho certo, ao abrir espaço para o reggae local. “Acho que nossa diversidade permite que se abra espaço para todas as tendências musicais”, complementou.
 
O seleto e entusiasmado público presente, formado por rastafáris de diferentes gerações, também foi ao delírio aos primeiros acordes  da “Favela Reggae”, uma das bandas mais queridas da periferia recifense. Para o líder e vocalista Demir Favela, a empatia com o público não é por acaso. “Nosso grupo tem 18 anos e nossa inspiração é exatamente o jovem da periferia, que se identifica com a mistura de ritmos de nosso reggae, que tem um sotaque enraizado na cultura popular pernambucana”, explica. “Dólar da favela”, ‘Mama sou rastafári” e “Cidade alerta” são alguns exemplos de músicas que permitem a “Favela Reggae” contar com um público cativo em suas apresentações.
 
Dentro de um belo vestido de cetim e usando pulseiras e arranjo de cabelo nas cores amarela, preta, verde e vermelha, a vendedora de artesanato, Branca Vasconcelos, se destacava no meio do público. Segundo ela, não há nada de estranho em “curtir” uma noite de Natal ao som do melhor reggae pernambucano.
 
“A Prefeitura acertou em cheio, pois esta festa tem tudo haver com o espírito natalino”, frisou, explicando: “a cultura rastafári, da qual eu faço parte, tem uma de suas vertentes baseadas na crença em Jah, que significa Deus nas escrituras hebraicas. E o Natal não é exatamente a comemoração do nascimento do filho de Deus para os cristãos? Onde está a falta de sintonia?”.
 
Ao poucos metros de Branca, o pequeno Tiago, de 8 anos, não precisava de explicações religiosas para cair no reggae, pois o motivo vinha do palco à sua frente, nos acordes sincronizados dos grupos participantes. Tudo em nome do ‘Natal da paz” promovido pela Prefeitura do Recife, que este ano presta homenagem a Dom Helder Câmara.

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