De 21 a 24 de setembro acontece, no auditório da Fundação Joaquim Nabuco (Casa Forte), o Simpósio Internacional de Ciência e Tecnologia Georg Marcgrave 400 anos: A Ciência unindo Velho e Novo Mundos. O evento reunirá especialistas brasileiros e estrangeiros, atuantes em áreas que vão da Astronomia e do Monitoramento Climático à Botânica e à Zoologia, que debaterão os alcances e os limites do legado do alemão Marcgrave, que veio para o Recife na época da ocupação holandesa e cujos feitos incluem, entre outros, a construção na Cidade do primeiro observatório astronômico de base permanente do Hemisfério Sul e o primeiro registro sistemático da biodiversidade — fauna e flora — do Nordeste.
 
O projeto é idealizado pelo Centro Cultural Brasil-Alemanha e conta com as parcerias da Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico (SCTDE), do Instituto Max Planck de História das Ciências, da Fundação Joaquim Nabuco, da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE e do Museu de Astronomia e Ciências Afins – Mast/MCT, do Rio de Janeiro e faz parte do Ano Brasil-Alemanha de Ciência, Tecnologia e Inovação. 
 
O objetivo do evento é revisitar, à luz dos últimos avanços científicos e tecnológicos da atualidade, as pesquisas empreendidas no Recife do século XVII por Georg Marcgrave, que foi um pioneiro das ciências em terras brasileiras. Ao pôr em diálogo as fronteiras da ciência no século XVII e as fronteiras da ciência no século XXI, o simpósio não apenas traz à tona um episódio importante da memória cultural do Recife: vem reiterar a vocação histórica da cidade para a ciência e a tecnologia.
 
O lançamento do Simpósio será no Forte do Brum, segunda-feira (20), data na qual o médico, astrônomo, biólogo, cartografista e botânico Marcgrave completaria 400 anos. Na ocasião será apresentado o livro “o observador do telhado”, do Prof. Dr. Oscar Matsuura. A publicação fala sobre o trabalho de Marcgrave como astrônomo, que começou com a instalação de um telescópio no telhado da casa de Maurício de Nassau, e é patrocinada pela SCTDE. O lançamento contará, ainda, com a noite da observação. Serão instalados três telescópios no local para visualização das constelações.
 
O secretário de municipal Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, José Bertotti, destaca o pioneirismo do Recife na produção científica. Hoje o Recife é reconhecido como grande polo produtor na área, e essa história vem desde os tempos de Marcgrave, já que foi por conta do trabalho do alemão a Cidade recebeu o título de berço da astronomia das Américas. “O Recife vive um importante momento de desenvolvimento, focado nos setores de produção científica, tecnológica e de inovação. Tudo que nasceu aqui serve de base para trabalhos que estão sendo realizados em várias partes do mundo, o que ratifica a vocação da cidade para a ciência”, explica. “O Recife estás prestes a ganhar o seu primeiro planetário, que irá funcionar no Parque Científico e Cultural do Jiquiá, e servirá como fonte de estudo para centenas de jovens. E essas raízes históricas justificam e qualificam o Recife para receber esse e outros equipamentos no grande projeto do Parque”, diz Bertotti.
 
Sobre Marcgrave – Georg Marcgrave nasceu em 1610, na pequena Liebstadt, a sudeste de Dresden. Iniciou seus estudos aos 17 anos de idade. Durante os 11 anos que se seguiram, passou por diversas universidades importantes da Europa — Leipzig, Estrasburgo, Basileia, Ingolstadt, Altdorf, Erfurt, Wittenberg, Greifswald, Rostock, Stettin e Leiden —, numa formação dividida entre a Botânica, a Medicina, a Matemática e a Astronomia. Nesse período, pode entrar em contato com teorias então recentes que revolucionariam a ciência, como as de Galileu, Kepler e Descartes, bem como com técnicas apenas nascentes de observação do espaço.
 
Foi no dia 1º de janeiro de 1638 que Marcgrave embarcou para o Brasil, como assistente do médico e naturalista Willem Piso (1611-1678), que acabara de ser convocado pela Companhia das Índias Ocidentais para substituir, em Pernambuco, o médico recém-falecido do príncipe Maurício de Nassau.
 
De 1638 a 1643, período de sua estada no Brasil, Marcgrave excede em muito o papel de mero assistente de Piso. Seu empenho nas observações astronômicas levou-o à construção do primeiro observatório de base permanente do Hemisfério Sul, a partir do qual fez vários registros, como a primeira descrição científica de um eclipse solar no Novo Mundo, ocorrido em novembro de 1640. Das expedições que realizou no litoral e no interior resultou o primeiro mapa do Nordeste baseado em medições exatas, além do verdadeiro atlas da biodiversidade e da cultura locais que constituiu sua Historia Naturalis Brasiliae: trabalhos amplamente reproduzidos, nos séculos seguintes, em obras referenciais sobre o Brasil.
 
Marcgrave ainda fez observações meteorológicas sistemáticas, deixando registros do regime de chuvas e ventos da região ao longo do ano. Com a admiração e o respeito crescentes conquistados junto a Maurício de Nassau, veio a ser o responsável pelo jardim zôo-botânico do Palácio de Friburgo, que, em 1640, continha aproximadamente 800 árvores. O mero assistente de Piso, a essa altura, já havia se tornado uma espécie de chefe da missão científica do governo nassoviano.
 
Em 1644, numa viagem a São Paulo de Loanda, em Angola, Marcgrave faleceu precocemente, aos 34 anos de idade, vítima de uma febre tropical.

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