HISTÓRICO DO BAIRRO DO RECIFE

O nome RECIFE vem da curiosa muralha natural de rochedos de coral ou arrecifes, que corre paralela à costa. Ela protege o porto contra a força das ondas, ventos e tempestades. Esta peculiaridade provocou em Charles Darwin, quando de volta de sua viagem ao redor do mundo, uma surpreendente admiração: "O objeto mais curioso que observei nesta vizinhança foi o recife que forma o ancoradouro. Duvido que em todo o mundo haja outra estrutura natural que apresente aspecto tão artificial". Foi neste singular local na desembocadura do Rio Capibaribe, num estreito ístmo (depois ilha), que a atual cidade iniciou o seu povoamento.

O bairro marítimo (Recife) por volta de 1548, era apenas um começo de povoado, formado por pescadores ou pessoas ligadas ao mar e contava com 3 armazéns. Este povoado servia de porto para a cidade de Olinda.

No início da colonização, o Recife emerge como ponto estratégico para conquistas e comércio. A característica de uma sociedade bélica que precisa se defender de ataques de piratas e conquistadores, se reflete na presença de fortificações existentes ou reformadas até hoje.

Após a Invasão Holandesa surgem as construções de taipa atendendo a espontaneidade das necessidades. Em 1637 uma população de 2.700 habitantes se estabelecia no Recife.

A cidade do Recife se desenvolve pouco depois do abandono e incêndio de Olinda, indo até a Igreja da Madre de Deus. Suas defesas se localizavam na praça do Apolo e Rua Amorim. Heróis e pessoas comuns imprimiram suas marcas nas Ruas do Bairro do Recife, onde hoje sentimos o passado.

A liberdade de credo que veio com os holandeses, trouxe para o Recife a primeira Sinagoga das Américas. A nova visão da formação de lucro, não mais condenável, mas desejável, fez desta nova sociedade/cidade um grande centro comercial, onde utilizava-se a moeda e um sistema de mercado tão adiantado e efervescente como na Europa. Produtos como porcelanas orientais, sedas e damascos aqui chegavam mudando pouco a pouco os costumes de uma época. Construções, ruas e pontes eram edificadas, como testemunhos da urbanização do período como no caso das ruas da Moeda, Tomazina, do Bom Jesus e o Forte do Brum. No Século XVII era o maior porto das Américas.

O comércio efervescente refletiu na expansão do "bairro" com aterros e pontes que ligaram e solidificaram a ocupação do Continente. No decorrer dos séculos, a cidade se estendeu para lugares chamados Santo Antônio, São José e Santo Amaro, hoje componentes do Centro Histórico.

Após a expulsão dos holandeses, Recife estava consolidada como centro de negócios e residências. Neste período já existe referência à Casa da Moeda. Entretanto, Recife só será elevada a categoria de vila em 1710.

Datam do Século XVII a construção dos sobrados portugueses com influência holandesa, altos e estreitos, de altura variada, com 2, 3 e 4 pavimentos. No andar térreo desses sobrados estavam os estabelecimentos comerciais, no primeiro andar escritórios e nos demais andares, as residências.

Os viajantes eram atraídos, quando de sua chegada pelo mar, por seus sobrados altos e estreitos ( diferentes dos existentes em outras cidades), pelas ilhas, pelas pontes e pelos rios. A população que circulava pelas ruas era em sua maioria de homens escravos. As mulheres não saiam às ruas, só de palanquins, e não chegavam à porta de casa durante todo o dia.

O Recife do Século XIX era uma das principais cidades do Brasil, lugar próspero aumentando dia a dia em importância, opulência, e claro, em antigas rivalidades com Olinda. Estas rivalidades e seu passado de lutas retardaria a concessão legal do título de cidade.

A revolução industrial na Inglaterra teve significativa repercussão em Recife, como cidade portuária. O livre comércio entre as nações estreitas cosmopolitas gera mudanças nas relações físicas e nos costumes da cidade. O viajante Koster anota, em 1811, algumas mudanças do atual Bairro do Recife, "As casas tinham sido reparadas e as rotulas foram substituídas pelas janelas com vidro e balcões de ferro. As mulheres continuavam saindo de palanquins, mas com a vinda das inglesas, os passeios à tarde se tornavam cada vez mais freqüentes". No tempo das procissões da Semana Santa, após as férias de verão, quando as pessoas saiam para os arredores, as ruas se enchiam de gente com os círios acesos ladeando as igrejas.

A partir do Século XIX a diferença entre portugueses e brasileiros se acentua. Algumas restrições econômicas, como o monopólio e o comércio reservado aos reinóis associado a outras causas sociais, desencandeia movimentos emancipacionistas. Recife é um terreno fértil para rebeliões. Dada a persistência da tensão entre brasileiros e portugueses suas ruas foram testemunhos de lutas para a independência brasileira, que culminaram na Revolução de 1817. Tais lutas sucessivas retardaram a decisão de tornar Recife capital.

A expansão em fins do Século XIX se reflete na necessidade de melhorias do porto, na construção do Teatro Apolo e na Torre do Observatório, hoje Torre de Malakoff.


IGREJA DO CORPO SANTO
Litografia de Luis Schlappriz, 1863

No início do Século XX, entretanto, a partir das demandas do Brasil republicano, foram feitas as reformas do Porto e do setor sul do Bairro do Recife, um prenúncio das mudanças que ocorreriam ao longo do século com o advento dos ideais de desenvolvimento e progresso que privilegiariam a destruição de vários edifícios emblemáticos do Bairro do Recife e do Centro Histórico como um todo.

Assim o Século XX é caracterizado por reformas e demolições em busca de modernização. No Bairro do Recife inicia uma época de abertura de avenidas e construções modernas. Desaparecem construções pioneiras como a Igreja do Corpo Santo um dos maiores e mais antigos templos da cidade e a Rua da Cadeia. Em seu lugar surge um novo traçado urbano dominando dois grandes bulevares, calçadas decoradas (há cerca de 15 padrões variados), quadras tipo ferro de engomar e edifícios ecléticos apelidados de "bolo de noiva". O Bairro do Recife se consolida como área boêmia da cidade, prostíbulos famosos, boates e diversas entidades financeiras constróem a identidade do bairro. Em meados do Século XX, entretanto instala-se no Bairro do Recife um processo de deterioração física e desaquecimento funcional que só seria revertido seguindo uma tendência internacional pós-guerra de recuperar e requalificar centros históricos.

O final da década de 70 é marcado pela preocupação com o passado na memória, não só em Recife, mas em todo o país (Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, etc.). Aqui ele será refletido na elaboração de um Plano de Preservação dos Sítios Históricos da Região Metropolitana do Recife, o que desencadeará na criação de uma legislação específica de preservação ( Lei n°.13.957/97 ), incorporada na Lei de Uso e Ocupação do Solo da Cidade em 1983.

A ação concretizada de todo esse espírito de manutenção e preservação da memória de lugares históricos encontrará sua expressão materializada em 1987 com o Plano de Reabilitação do Bairro do Recife. A partir de então a continuidade de ações voltadas para empreender a preservação de nossa memória se tornou prioritária.

Atualmente em busca de adaptar o passado às condições da vida contemporânea e confrontando as mudanças da atualidade, o Bairro do Recife tem sido prioridade do poder público para diversificar empreendimentos e a promover o turismo.

Hoje o bairro salvaguarda seus valores históricos, seus tesouros artísticos aliado ao charme do bom viver por suas ruas. Afinal o Bairro do Recife é o berço da cidade, onde tudo começou.

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