Ponte do Recife e Arco de Santo Antônio, Lauro Villares

A cidade, suas pontes e portais

As semelhanças do terreno em que está assentada a cidade do Recife com o território holandês permitiram, já no século XVII, a importação de tecnologias flamengas, que serviram para controlar a presença da água sobre o território recifense.

Inicialmente localizados na península, e se deslocando, após a chegada de Nassau, para a Ilha de Santo Antônio, os holandeses aplicaram seus conhecimentos na construção de canais e pontes. Essas inovações foram introduzidas em um aglomerado urbano estrategicamente cercado de muralhas com fosso d'água e baluartes, segundo os mais avançados tratados da arquitetura militar da época.

Foi dos holandeses a iniciativa de edificação da primeira ponte do Recife, para alguns considerada a primeira do Brasil, quiçá das Américas. Antes da ponte, o transporte era feito através de botes, cujos serviços eram explorados pelos homens da Companhia. No governo de Nassau, surgiu o projeto de uma ponte ligando o istmo do Recife à Ilha de Santo Antônio. É deste período a alegórica passagem do Boi Voador sobre a cidade - uma estratégia do conde para atrair a atenção da população e assim estimular a arrecadação de fundos. A ponte foi batizada de Ponte do Recife e foi modificada ao longo dos tempos, contando com dois dos principais portais de entrada que protegiam a cidade, e ainda com uma galeria de lojas instaladas em ambos os lados. Foi substituída, no século XIX, por uma nova estrutura toda em ferro, como a atual Ponte da Boa Vista. Na localização aproximada desta ponte situa-se hoje a Ponte Maurício de Nassau.

A segunda ponte ligava a Ilha de Santo Antônio às terras da Boa Vista, partindo da frente do palácio, em ângulo obtuso, e desembocando defronte à atual rua Velha, segundo Tadeu Rocha. Tal angulação reflete o planejamento urbanístico holandês, transformando a região portuária em ponto axial para o desenvolvimento da cidade: as linhas de orientação dessas pontes marcavam a direção da expansão urbana, mantida mesmo depois da retomada do controle português sobre a região.

Os portais foram também referências marcantes na cidade - herança do sistema de defesa que se manteve durante longo período - fazendo nascer a expressão "fora de portas", que designava a região de expansão, para além das velhas entradas do núcleo fortificado. Havia ao norte, na ligação com Olinda, o Arco do Bom Jesus. Para oeste ficavam o Arco da Conceição, na atual Av. Marquês de Olinda, numa das cabeceiras da ponte e, na outra extremidade, o Arco de Santo Antônio, apontando para a atual rua 1° de Março. Os portões mantêm sua presença na cidade até início do século XX, mesmo quando sua função de defesa já se encontrava totalmente sem significado.

Sem os velhos portais, a cidade do Recife conta hoje com sete grandes pontes na região central, três delas ligando a antiga península ao bairro de Santo Antônio: a Ponte 12 de Setembro (chamada Giratória), a Maurício de Nassau e a Buarque de Macedo. As outras quatro ligam o bairro de Santo Antônio ao da Boa Vista: são as pontes de Santa Isabel, Duarte Coelho, da Boa Vista (conhecida como Ponte de Ferro) e a Ponte Velha (06 de Março).

Geraldo Marinho e Magdalena Almeida


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