A modernização da rede urbana

A reforma do Bairro do Recife, nas primeiras décadas do século XX, expressa com dramaticidade o sentido de uma modernização devastadora que se estendeu até bem recentemente. Segundo Sylvio Rabello, naquele tempo "dominava a embriaguez do novo: botar abaixo sobrados coloniais para no lugar erguerem-se edifícios de estilo moderno". Em nome da eficiência do porto e do combate à insalubridade, rasga-se o velho traçado urbano, levando ao chão monumentos como a igreja do Corpo Santo e os Arcos, que eram as "portas" da cidade. Largas avenidas de inspiração parisiense, como a Marquês de Olinda e a Rio Branco, servem de palco para um novo conjunto arquitetônico de rica ornamentação. Por outro lado, co-mo ressalta a pesquisadora Cátia Lubambo, "surgiram bairros de moradias tão pobres e insalubres, nas áreas mais afastadas, quanto aquelas que o projeto se propôs a dirimir". Nos subterrâneos da cidade, uma revolução tomava corpo. O projeto e a instalação do sistema de saneamento idealizado pelo engenheiro Saturnino de Brito colocava o Recife na posição de um centro urbano moderno. Foi uma resposta concreta e de grande impacto para o combate às epidemias e para a insatisfação geral da população quanto aos serviços existentes. Utilizando tecnologias avançadas, o sistema de esgotos cobria a região central e bairros populosos da periferia, como Torre e Casa Amarela, totalizando mais de mil hectares e atendendo uma população de 86 mil habitantes. Expandindo fronteiras, o adensamento das áreas vizinhas ao centro e a ocupação de novas localidades se dão dentro dos ideais do sanitarismo. As obras de urbanização dos bairros do Derby e de Boa Viagem consagram, mesmo com características espaciais distintas, a imagem de áreas habitacionais com ruas largas, infra-estrutura, arborização e jardins nas residências. Mais que um elegante bairro-jardim, o Derby se transformou num importante centro cívico, abrigando eventos públicos na sua grande praça. A Av. Beira-Mar (atual Av. Boa Viagem) recebeu tratamento privilegiado, com pavimentação, iluminação pública e linha de bondes para abrigar famílias nobres, revelando os efeitos da introdução do hábito do banho de mar e a valorização imobiliária das áreas de praia que se iniciava naquele momento.

Geraldo Marinho


A modernização devastadora pôs abaixo sobrados coloniais e monumentos na reforma do Bairro do Recife.


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