|
(Artigo publicado na Folha de São Paulo, Caderno Dinheiro, 05/03/2003)
Existem pessoas, certamente apenas dentre as que nunca vieram ao
Carnaval de Pernambuco, que ainda não sabem da novidade, mas ali já se
tem o maior Carnaval do país.
Só há um item em que Pernambuco perde para o Rio e a Bahia: o showbizz,
a exibição de estrelas conhecidas e candidatas a estrelas.
No restante é imbatível, seja na musicalidade, na diversidade, no
colorido ou como cultura popular.
Como produto cultural, não há nada que chegue remotamente perto do que o
Estado oferece. Maracatus, frevos, blocos, entre uma infinidade de
manifestações culturais riquíssimas, coloridas, alegres.
Como produto turístico, ao longo de anos o Estado e a cidade foram se
organizando, criando a infra-estrutura.
Recife sempre foi o pólo máximo da cultura nordestina. Antes de explodir
no Rio, todos os artistas do Nordeste tinham passagem obrigatória por
Recife, pela rádio Clube e pelo Jornal do Comércio.
Nos anos 70 veio a decadência dos engenhos e a televisão tornou-se
produto cada vez mais nacional e menos regional. Sob a influência da TV
Globo, disseminou-se por todo o país o modelo do Carnaval carioca, com
suas fantasias caras, sua organização rígida. As manifestações regionais
foram sendo esmagadas.
A resistência deu-se aos poucos. Nos anos 70, recriou-se em Recife o
Bloco da Saudade, nos moldes dos velhos blocos em extinção. Nos anos 80
acabou-se com a burocratização do Carnaval de Recife, soltando o povo na
rua. Olinda já regurgitava de gente nos Carnavais.
Nos anos 90, o pessoal da universidade, os intelectuais, os empresários,
a classe média começaram a se voltar para a sua cultura, recriando
blocos e maracatus. De sua parte, o Estado passou a montar cursos para a
confecção das vestimentas de maracatu, para ensinar a fabricação de
instrumentos.
E aí havia a base, de milhares de músicos anônimos tocando todos os
instrumentos de sopro. De quase desaparecido, o maracatu possui hoje em
dia mais de 80 grupos rurais e urbanos. Os blocos de rua se multiplicam.
A infra-estrutura pública foi completando a obra. Nos anos 90,
inaugurou-se o Marco Zero, enorme praça para shows gigantescos, em pleno
Recife velho. Depois, reformou-se o Recife velho, que virou centro de
lazer agradabilíssimo.
Na cidade, optou-se por descentralizar o Carnaval, criando pontos de
Carnaval em cada bairro. Depois, incorporou-se ao Carnaval do Estado
eventos regionais, como o Papangu de Bezerros e o maracatu rural, de
Nazaré.
Hoje há ampla diversidade, do desfile do Galo da Madrugada, que começa
às 10h, com trios elétricos tocando música acústica, os grandes shows
nordestinos no Marco Zero, os desfiles de blocos e maracatus, e até
cerimônias religioso-carnavalescas originalíssimas, como a Noite dos
Tambores Silenciosos, que reúne maracatus de todo o Estado para sua
celebração.
E tem os grandes artistas populares -liderados pelo onipresente Alceu
Valença- produzindo uma música de Carnaval variadas.
Cultura popular riquíssima, e alguma continuidade na administração
pública, levaram a isso: é questão de tempo para que Pernambuco se torne
um pólo superior à Bahia, no turístico de Carnaval.
Jornalista
|