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Neste início de século, as fontes energéticas de origem fóssil: petróleo e derivados, carvão mineral e gás natural são responsáveis por 80% de toda energia consumida no mundo. A manutenção deste sistema energético, baseado nos combustíveis fósseis, é simplesmente insustentável, pois, além do próprio esgotamento de suas reservas, contribui substancialmente com o efeito estufa, a acidificação dos lençóis freáticos, o desflorestamento, além de ser um fator de instabilidade para a paz mundial.

Quando queimados, liberam gases altamente poluentes (gás carbônico, óxidos de nitrogênio e dióxido de enxofre), que são os grandes responsáveis pelos impactos ambientais, que colocam em risco a própria sobrevivência da raça humana, como é o caso do efeito estufa. O acúmulo de gás carbônico (CO2) na atmosfera terrestre tem provocado o aumento da temperatura média da Terra, cujas evidências são irrefutáveis. Cientistas do Worldwatch Institute (USA) atestam que nos últimos 35 anos aconteceu uma diminuição da massa de neve/gelo nos Andes, Himalaia, Alpes e Montanhas Rochosas, e o volume da capa de gelo que cobre o Oceano Ártico encolheu em mais de 40%. As décadas de 80 e 90 foram os anos mais quentes do século.

É neste contexto, que a opção do governo brasileiro em ampliar a participação do gás natural na matriz energética brasileira, evidentemente, aumentará à poluição do meio ambiente decorrente principalmente da produção de energia elétrica. De acordo com o Plano Prioritário das Termoelétricas (PTT), anunciado pelo Ministério de Minas e Energia, em fevereiro de 2000, serão construídas 49 unidades térmicas de geração elétrica, sendo que 42 alimentadas a gás natural, isso até o ano de 2003, quando a capacidade instalada será aproximadamente de 11.000 MW.

Dentre as desvantagens deste programa, além da produção do gás que provoca o efeito estufa (o país passará a despejar na atmosfera 20 milhões de toneladas-ano de CO2, ou seja, quatro vezes mais que atualmente); 80% de todo combustível consumido e equipamentos utilizados serão importados, aumentando assim o déficit comercial. Vale ressaltar que estas usinas necessitam de grandes volumes de água para seu resfriamento. A usina planejada para Pernambuco, com capacidade instalada de 530 MW, utilizará água do mar, com demanda de 10 m3/s.

É um desperdício a utilização de gás natural como combustível nas usinas termoelétricas, pois são verificadas grandes perdas na transformação da energia química do combustível em energia elétrica, no transporte e na distribuição até o consumidor. Além disso, o uso final será para alimentar equipamentos como ar-condicionados, chuveiros, caldeiras etc. Um uso mais eficiente seria utilizar o gás diretamente nos equipamentos e nas indústrias altamente consumidoras de energia (siderúrgicas, petroquímicas, cerâmicas e cimento). A ampliação da rede de gás natural nos domicílios evitaria a importação do Gás Liquefeito de Petróleo-GLP, amplamente utilizado nas cozinhas brasileiras.

Na seqüência dos equívocos da política federal para aumentar a oferta de energia elétrica, particularmente para a região Nordeste, foi anunciada recentemente a criação de uma empresa comercializadora de energia elétrica que, em nome do Estado, comprará a energia de usinas térmicas móveis montadas em plataformas terrestres ou em barcaças estacionadas ao longo do litoral. O combustível utilizado nestas termoelétricas é o óleo diesel, que ao ser queimado agride o meio ambiente, liberando na atmosfera cerca de 500 kg de gás carbônico para cada MWh elétrico produzido. O custo da energia gerada nestas instalações será de US$ 100.00/MWh, o que representará sete vezes mais que o custo nas hidroelétricas. Sem dúvida, as conseqüências desta decisão trarão impactos negativos de natureza ambiental, reajuste nas tarifas cobradas ao consumidor final, e aumento da dependência externa do país, devido à importação do diesel.

O Nordeste dispõe de vasto e diversificado potencial de recursos energéticos renováveis. Os investimentos deveriam ser aplicados no aproveitamento da energia térmica co-gerada nas indústrias (particularmente sucro-alcooleira); da energia eólica; da energia solar térmica, para aquecimento de água e produção de vapor, e da energia solar fotovoltaica, para sistemas não conectados à rede convencional. Enfim, não devemos esquecer das termoelétricas movida à biomassa com óleos vegetais, gás de madeira, carvão vegetal e, também, o uso do lixo urbano para fins energéticos. A diversificação e a complementaridade, envolvendo várias fontes energéticas renováveis, é que abastecerão os consumidores no futuro próximo.

Heitor Scalambrini Costa
Professor Adjunto da Universidade Federal de Pernambuco
Coordenador do Núcleo de Apoio a Projetos de Energias Renováveis