OS MUITOS FREVOS DO RECIFE


Instrumentos de corda são prioridades para os blocos.
Foto: Flávia Lacerda
Nos anos 30, com a popularização do ritmo pelas gravações em disco e sua transmissão pelos programas do rádio, convencionou-se dividir o frevo em FREVO-DE-RUA (quando puramente instrumental), FREVO-CANÇÃO, (este derivado da ária, tem uma introdução orquestral e andamento melódico, típico dos frevos de rua) e o FREVO-DE-BLOCO. Este último, executado por orquestra de madeiras e cordas (pau e cordas, como são popularmente conhecidas), é chamado pelos compositores mais tradicionais de marcha-de-bloco (Edgard Moraes, falecido em 1974), sendo característica dos "Blocos Carnavalescos Mistos" do Recife.


Este folguedo carnavalesco, originado dos ranchos de reis e do pastoril, sai nos dias de carnaval com orquestra formada por violões, violinos, cavaquinhos, banjos, clarinetes, contrabaixos, percussão; aparecendo nos dias atuais alguns metais (tubas, saxofones, bombardino e trompetes) em face da necessidade de se fazer ouvir a orquestra, indispensável no acompanhamento do coro.
No Frevo-de-Bloco está a melhor parte da poesia do carnaval pernambucano, diante do misto da saudade e evocação que contém nas letras e nas melodias de grande parte de suas estrofes. Como Evocação (1957) de Nelson Ferreira (1902-1976):

Felinto, Pedro Salgado,
Guilherme, Fenelon,
Cadê teus blocos famosos?
Bloco das Flores,
Andaluzas, Pirilampos, Apôis Fum!
Dos carnavais saudosos?!



Ou como A Dor de uma Saudade, de Edgard Moraes, para o carnaval de 1961, feito em homenagem ao seu irmão Raul Moraes, falecido em 1937:

A dor de uma saudade
Vive sempre em meu coração
Ao relembrar alguém que partiu
Deixando uma recordação
Nunca mais...
Hão de voltar os tempos,
Felizes que passei em outros carnavais
.........................................................



Flabelo do Bloco da Saudade. Foto: Flávia Lacerda
Como o frevo-de-bloco, o frevo-canção também possui uma letra que vem logo a seguir da introdução orquestral. Tão velho quanto o frevo-de-rua, como já vimos anteriormente, o frevo-canção é responsável pela grande animação dos salões e das multidões que acompanham as Freviocas durante os quatro, cinco e até dez dias de carnaval. Os motivos das suas letras são os mais diversos, inclusive a própria animação do frevo, como bem afirmam Luiz Bandeira e Ernani Séve:


Êta frevo, bom danado!
Êta povo, animado!
Quando o frevo começa,
parece que o mundo já vai se acabar
Êh!
Quem cai no passo não quer mais parar.
....................................................

Mas para aquele pernambucano, longe do Recife, exilado voluntário do seu próprio chão, privado da paisagem e dos sons que acalenta em sua alma de folião, um frevo estará sempre presente, no seu cantar baixinho. Como a embalar o seu próprio coração, ele balbucia a letra do Frevo no 1 do Recife, feito por Antônio Maria Araújo de Morais (Recife, 1921 - Rio, 1964) num de seus momentos de banzo e de saudades do seu torrão, gravado inicialmente pelo "Trio de de Ouro" em 9 de agosto de 1951. O sucesso veio a ser regravado depois com competência por muita gente, a exemplo de Claudionor Germano e Expedito Baracho, mas por vezes com falhas lamentáveis na letra e na melodia, como no caso de Maria Bethânia e de Marisa Gata Mansa :

Ô, ô, ô, ô, ô ... saudade
Saudade, tão grande.
Saudade que eu sinto
Do Clube das Pás, do Vassouras,
Passistas traçando tesouras,
Nas ruas repletas de lá...
Batidas de bombos,
São maracatus retardados,
Chegando à cidade, cansados,
Com seus estandartes no ar.

Quando eu me lembro
Que o Recife está longe
E a saudade é tão grande
Que eu até me embaraço
Parece que eu vejo
Valfrido Cebola, no passo
Haroldo Fatia, Colaço...
O Recife está perto de mim.