NOSSOS RITMOS, NOSSO IMAGINÁRIO COLETIVO


GRUPO BACNARÉ. Foto: Hans von Manteuffel
A influência dos indígenas,
africanos e europeus
provocou, no Nordeste,
uma identidade cultural
ímpar revelada na
multiplicidade de ritmos,
de manifestações artísticas
que mostram a face de um
povo que, na sua luta
constante por uma vida
digna, deixa aflorar
no cotidiano a alegria.

Ver gente de todas as idades acompanhar e cantar junto com Dona Selma do Coco, é compreender o quanto são significantes para o povo nordestino a dança, a brincadeira e a música com seus versos lúdicos exercendo o poder de aglutinação. Esta coquista é hoje uma grande representante do coco, velho ritmo agora fortemente resgatado no Nordeste.

Diante da beleza de sua dança e da força dos seus versos, muitos folcloristas traçaram definições a respeito do coco. A maioria concorda que ele foi primeiramente um canto de trabalho dos tiradores de coco, e que somente depois transformou-se em ritmo dançado. Uns afirmam que ele nasceu nos engenhos, indo mais tarde para o litoral, e espalhando-se posteriormente nos ambientes mais chiques. Outros, no entanto, dizem que ele é essencialmente praieiro, devido à predominância da vegetação de coqueiros encontrados nesta região. Em relação ao Estado nordestino no qual teria nascido o coco a discordância ainda é maior. Alagoas, Paraíba e Pernambuco alternam-se nos textos existentes como prováveis "donos" deste folguedo. Mas afinal, qual seria realmente o seu local de origem ? Eis aí uma lacuna a ser preenchida por aqueles mais curiosos, interessados e com espírito descobridor. No meio de tantas dúvidas, uma coisa é certa: o coco tem origem é no povão! Sobre a sua forma de expressão, os pesquisadores 'definem' muitos 'tipos' de coco. Não seria muito confiável uma classificação diante da diversidade descrita por eles. O que observamos é que as variações do folguedo ocorrem pelas mudanças de nomenclatura de uma região para outra, por algum aspecto na dança e, principalmente, pela diferença na métrica dos versos que são cantados. Contudo, de maneira geral, o coco apresenta uma forma básica: os participantes formam filas ou rodas onde executam o sapateado característico, respondem o coro, e batem palmas marcando o ritmo. Muito comum também é a presença do mestre "cantadô". A festa sempre inicia quando ele "puxa" os cantos, que podem ser de improviso ou já conhecidos pelos demais.

"Coqueiro, tá de coco novo minha gente o que é que há..."

O coco pode ser dançado calçado ou descalço. Ele não possui vestimenta própria. Para participar, as pessoas utilizam qualquer tipo de roupa.
Este folguedo, aparentemente, não possui datas fixas para sua realização, ocorrendo em qualquer época do ano, embora seja mais facilmente encontrado no período junino. Em seu aspecto musical, os instrumentos de percussão são predominantes. Ganzás, bombos, zabumbas, caracaxás, pandeiros e cuícas são os mais encontrados nas descrições dos folcloristas. No entanto, para se formar uma roda de coco, não é necessária a presença de todos estes instrumentos. A brincadeira muitas vezes acontece apenas com as palmas ritmadas dos seus integrantes.
Dentre suas características mais gerais podemos destacar o seu espírito comunitário. Em um clima de muita alegria, homens, mulheres, crianças, de qualquer classe social, cantam, dançam e misturam-se sem nenhuma distinção. No que se refere às suas influências étnicas, a presença africana é clara, principalmente no ritmo, e em certos movimentos da dança. Encontra-se também uma forte contribuição indígena observada nos movimentos coreográficos, pois tanto a roda como a fileira são heranças dos nossos nativos.


DONA SELMA DO COCO. Foto: Eduardo Queiroga
Hoje em dia o coco se faz presente nos festejos de nossa gente. Selma e tantos outros coquistas tradicionais são exemplos de resistência e força de uma manifestação autêntica e original. Seu ritmo contagiante tem influenciado muitos compositores populares e até as bandas de rock da atual cena musical pernambucana. Jackson do Pandeiro inspirou Chico Science, Alceu Valença, e tantos outros artistas que buscaram e ainda procuram neste folguedo uma fonte para criação de suas obras.