UMA HERANÇA GUARDADA POR GRUPOS ARTÍSTICOS


XAXADO. Foto: Alcides Ferraz

Se entre os folcloristas encontram-se controvérsias sobre o lugar de origem do coco, o mesmo não acontece em relação ao xaxado. Todos confirmam que ele nasceu no alto sertão de Pernambuco, mais precisamente nas regiões do Pajeú e Moxotó. Entretanto, existe uma dúvida sobre quem teria sido seu criador de fato. Muitos falam que teria sido Lampião, apesar de que as pesquisas mais recentes não confirmam esta hipótese. De qualquer forma, o maior dos cangaceiros e seu bando divulgaram intensamente este ritmo, deixando-o marcadamente ligado ao cangaço.


Segundo Câmara Cascudo, a palavra xaxado é uma onomatopéia do barulho xa-xa-xa feito pelas alpercatas dos dançarinos quando elas arrastam no chão. De acordo com este mesmo pesquisador, o xaxado seria uma variação do canto de guerra sertanejo chamado Parraxaxá. Isto porque o conteúdo de suas letras possui sempre um sentido satírico e agressivo.

No seu início, o folguedo era realizado exclusivamente por homens. Com o passar dos anos as mulheres conseguiram seu espaço na brincadeira. Ele também não contava com o auxílio de instrumentos musicais. As vozes dos participantes construiam as melodias, geralmente cantadas com quadras e refrões, e apenas o arrastar das alpercatas e a batida do rifle marcando o ritmo no solo faziam o acompanhamento. Porém, nos dias atuais, é mais comum encontrar o xaxado formado por zabumbas, pífanos, triângulo, sanfona, reco-reco e ganzá.

Os movimentos da dança são apresentados em fila (influência indígena), sem volteio, avançando o pé direito em três e quatro movimentos para os lados e puxando o esquerdo, num rápido e arrastado sapateado, conforme a descrição de Câmara Cascudo. Hoje não se encontra mais, nem mesmo no sertão, o xaxado dançado espontaneamente. Podemos vê-lo apenas nas coreografias estilizadas dos grupos artísticos, que são praticamente os herdeiros desta tradição. O figurino confeccionado para sua representação é, geralmente, a cópia do antigo traje de cangaceiro, acrescido das imitações de rifles e cintos de bala, que formam os adereços.

O rei do baião, Luiz Gonzaga, foi um grande divulgador do xaxado, juntamente com outros artistas e grupos de dança regionais. Dentre estes grupos destaca-se o de Coruja, que mesmo já falecido, perpetua seu trabalho através do seu filho Corujinha.