DRAMA CIRCENSE


Espetáculo A LOUCA DO JARDIM. Foto: Alcides Ferraz
Depois do Riso, Lágrimas Invadem o Picadeiro.

Nem só de risos vive o mundo do circo. Depois do palhaço, do mágico, do malabarista, do trapezista etc., surgem esses mesmos artistas, como atores, deixando os espectadores num silêncio de morte, acompanhando, passo a passo, o desenrolar do drama circense. São encenações aproximadamente com uma hora de duração, tempo suficiente para os personagens passarem para uma posição de extremo oposto e, no mais das vezes, retornarem a tranqüilidade e normalidade inicial do drama, em grand finale.

São famílias afortunadas que sofrem a perda dos bens em jogos ou bebedeiras; casamentos desfeitos por intrigas de terceiros; doença grave causada por um castigo de Deus; o surgimento de um filho bastardo; um namoro proibido por questões raciais ou de diferenças sociais etc. Ou seja, temas de forte apelo sentimental, em encenação de um teatro naturalista, com exagerada dose de realismo cênico, que não levam a outra resposta do público, se não às lágrimas. São, na realidade, situações possíveis a qualquer mortal, sendo que, apenas o povo mais simples, sem preconceitos, conversa naturalmente no dia a dia sobre elas, sem vergonha, culpa ou pedido de perdão pelo pecado. Assim constitui-se a mola mestra da dramaturgia circense, "o drama da lona".

A dramaturgia é carregada de moralismo e ingenuidade, normalmente de autoria desconhecida, e quase total inexistência do texto escrito. Os atores circenses sabem decorado todos os textos, que aprendem ouvindo os companheiros nas apresentações, ao ponto de poder interpretar qualquer personagem, pois a prática do revezamento de papéis e intérpretes, é constante.

No maravilhoso mundo do circo,
também há espaço
para a dor e a tristeza.


No drama circense a estética cênica não corresponde à mesma observada nas companhias teatrais, visto que para esses artistas mambembes do picadeiro, o drama se resume à "mensagem" pura e simplesmente. E para isso vale tudo; do apelo mais fatal como um tiro no peito, ao banal surgimento de uma carta anônima, ou ainda às catastróficas previsões de uma cigana. São esses os recursos infalíveis para o desenvolvimento da encenação circense.
Peças como O Ébrio, O Filho Perdido e A Louca do Jardim, fizeram, por décadas a fio (dos anos 40 aos anos 70) parte do repertório obrigatório dos circos que percorriam a capital e o interior pernambucano. Hoje, raramente encontra-se uma montagem de Drama Circense, na segunda parte da função (espaço que era dedicado exclusivamente para a encenação do drama), trocado que foi pelos shows dos cantores de música romântica.