TEATRO DE RUA


Espetáculo ANGÉLICOS. Foto: Jorge Clésio
Personagens teatrais
e figuras exóticas
transformam as ruas
em verdadeiros espaços surreais.


Mantendo-se fiel ao seu primeiro abrigo, a praça, a arte de representar encontra nas ruas um público ávido e participativo, que faz com que o Teatro de Rua seja um veículo eficiente na comunicação e divertimento.


A comunicação bilateral que o teatro de rua consegue com sua platéia (assistência, seria o termo mais exato), quando os personagens dialogam com os transeuntes da área, é de uma franqueza e espontaneidade, jamais conferidas a outra forma de fazer teatro. Vir às ruas e, num curto espaço de tempo conquistar cúmplices, é a mola mestra deste teatro, que mistura-se ao povo, pegando-o por uma das necessidades básicas do homem, o seu divertimento. Daí, travam-se discussões de problemas e de idéias, que puxadas pelo teatro, envolvem pessoas de todas as idades, credos e graus de instrução, numa forma lúdica, porém repleta de verdades, anseios, indignações e desejos de uma população. É esta interferência na vida dos que caminham para o trabalho, para o médico, para as compras, ou mesmo dos que perambulam pelos centros das cidades e ruas de grande movimento em bairros populares, que o teatro surpreende e dá a sua contribuição, fazendo com que esses passantes pensem e opinem a respeito do tema abordado, sempre ligado ao cotidiano dessas pessoas. Mesmo que não seja um tema óbvio e tão exposto, o teatro de rua faz a ligação lógica com a vida da sua platéia.
É um teatro imediato, simples e envolvente, com diálogos puxados sempre pelos pronomes eu, tu, ele, provocando desta forma a intimidade cênica fundamental a esta linguagem teatral (a já citada cumplicidade) entre atores e espectadores, exemplo:

Ator - Eu sou o seu salário mínimo.

Com uma declaração dessas, o público imediatamente reage, das mais variadas formas, que passam pelas vaias, chingamentos e até empurrões no ator que interpreta o personagem conhecido e odiado pela platéia, o Salário Mínimo. Sem perder a noção de que se trata de uma representação, as pessoas que param para vê-la, extravasam suas queixas e divertem-se no jogo do faz-de-contas, transformando o teatro numa verdadeira arte interativa.

Cumprindo uma forma ritualística desde os gregos (procissão Dionisíaca), o teatro de rua contribui para a complexidade do entendimento do que é e do que não é teatro na vida. Conduzindo os seus elementos básicos de apoio como bandeiras e instrumentos musicais, os atores percorrem as ruas chamando a atenção do povo e atraindo para a representação, deixando claro que se trata de uma encenação (teatro declarado), visto que as manifestações de rua como procissões religiosas, desfiles carnavalescos, paradas militar e escolares etc., são também permeadas de teatralidade, com direito a adereços, máscaras, indumentárias e música; ou seja, parece teatro mais não é. E assim, o teatro de rua cumpre um papel de grande importância na sociedade, misturando-se às figuras simples ou exóticas das cidades, transformando por um curto espaço de tempo, a vida em um ato surreal.

Nos anos setenta, grupos como Ponta de Rua, de Olinda; Teimosinho, do bairro de Brasília Teimosa; Teatro Popular da Várzea, entre outros, fizeram verdadeiros movimentos culturais com os seus espetáculos, unindo a arte teatral às lutas sociais das comunidades da área metropolitana da Grande Recife. Hoje, o Brasil aplaude com veemência os espetáculos montados pelos grupos Galpão (MG), Tá Na Rua (RJ), Alegria Alegria (RN) e Imbuaça (SE), respeitáveis sobreviventes do teatro mambembe brasileiro.