A DANÇA GUERREIRA NORDESTINA


Das verdes matas de outrora
Por entre ruas avança
Formado por dois cordões
No vigor febril da dança
OS CABOCLINHOS ligeiro
nos traz do índio a lembrança.

Herança dos tabajaras
Tupis e tupinambás
Numa dança vigorosa
Encantadora demais
"Ligeiros que só a gota"
Ao som dos caracaxás.

E da preaca batendo
Fazendo a marcação
Os cabeçotes de pena
De aves como pavão
Multicores, enfeitadas
Reluzindo sedução.

Sua coreografia
é bastante variada
Aldeia, cipó, toré,
Baiano e emboscada
traidor, passo de guerra
de pés em pés recriada.

Foto: Flávia Lacerda

Com estes versos arrumados em sextilhas, descreve o poeta José Honório - também exímio bailarino popular - esse folguedo, tão antigo que já encantava, ao final do século XVI, o padre jesuíta Fernão Cardim.


Foto: Flávia Lacerda
O pesquisador Roberto Benjamin, se não esclarece toda a questão da origem dos caboclinhos, parece chegar bem perto, quando afirma que "... o povo mestiço elaborou um folguedo de representação da vida indígena utilizando, talvez reminiscência de autos jesuítas de catequese, elementos visuais e literários do romantismo indianista e traços das culturas indígenas oriundas da música e dança religiosa, de cultos semi-secretos, somados ainda a elementos de culturas negras."


Estudaram ou têm estudado os caboclinhos (popularmente chamados de cabocolinhos), pesquisadores como Mário Melo, Renato Almeida, Mário de Andrade, Katarina Real, Guerra Peixe, Leonardo Dantas e Roberto Benjamin, entre outros.
Ressaltam todos algumas características essenciais do folguedo: a dança guerreira, o cunho religioso propiciatório de boa colheita ou caçada, a recitação de versos heróico - nativistas etc.
Nos últimos tempos vem desaparecendo o recitativo, persistindo, no entanto, a bela coreografia, que se representa por "uma espécie de grupos de homens e mulheres, trajando vistosos cocares de pena de ema, avestruz e pavão, com saias também de penas, trazendo adereços nos braços e tornozelos (também em penas), colares, que desfilam em duas filas fazendo evoluções das mais ricas ao som dos estalidos secos das preacas (um composto de arco e flecha, cuja haste da flecha, provoca um som característico quando do seu impacto com o arco), baixando-se e levantando-se com agilidade, como se tivessem molas ao invés de pernas, ao mesmo tempo que rodopiam apoiando-se nas pontas dos pés e calcanhares", conforme descreve Leonardo Dantas.

Foto: Flávia Lacerda


Tradicionalmente os caboclinhos têm feito suas apresentações no Recife, em Olinda, Nazaré da Mata, Carpina, Tracunhaém, Camaragibe, São Lourenço, Paudalho e nos estados de Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte.


FIGURANTES

São figurantes das tribos de caboclinho: rei (cacique), rainha (cacica), capitão, tenente, guia, contra-guia, perós ou indiozinhos, porta-estandartes, caboclinhos, caboclinhas, pajé, caboclinhos caçadores, princesas e curandeiro.

ORQUESTRA

A orquestra é formada pelos seguintes instrumentos: gaita ou flautim (de taquara, também chamado inúbia), caracaxás ou mineiros, tarol e surdo.

Foto: Flávia Lacerda



A BELEZA DA INDUMENTÁRIA ALIA-SE AO RITMO CONTAGIANTE
Foto: Flávia Lacerda
MÚSICA

Katarina Real, assim descreve o som extraído da gaita (flautim): "...as melodias, escalas, tonalidades são de um exotismo oriental, impressionante - indu, chinês, árabe, ameríndio, incaico, e muito pouco européia".

Sobre os elementos musicais, Roberto Benjamin declara que "...foram extraídos de rituais de culto de origem indígena, que sobreviveram semi-secretamente, apesar das perseguições às manifestações mágico-religiosas".


INDUMENTÁRIAS E ADEREÇOS

Sempre vestidos de tangas e cocar de penas de aves (ema, avestruz e pavão), os caboclinhos usam ainda uma variedade de adereços, tais como: pulseiras, braçadeiras em pena (caboclos), colares de contas e sementes (no pescoço), pequenas cabaças (na cintura), flechas grandes (para moças) preacas, que consistem em arcos com flechas retesadas, presas, que puxadas, produzem um estalido seco, marcando o ritmo.
O musicólogo Guerra Peixe, comparando os caboclinhos com muitos outros folguedos, conclui: "Os caboclinhos são a presença mais original no carnaval do Recife"

É oportuno que se renda uma homenagem
aos dois mais antigos grupos de caboclinhos
em atividade em todo nordeste:
Tribo Caboclinhos Canidés, fundada em 1897
e a tribo Caboclinhos Carijós, fundada em 1899

Foto: Flávia Lacerda