BUMBA-MEU-BOI


Meu boi morreu
que será de mim?
manda buscar outro,
ô maninha,
lá no Piauí.


Auto ou drama pastoril? Não importa. O Bumba-meu-boi, forma de teatro hierático das festas de Natal e Reis, é o mais puro dos espetáculos populares. Embora se notem algumas influências européias, a sua estrutura no seu todo, assuntos, tipos e músicas são essencialmente nordestinos.


Pereira da Costa imaginou que a origem do auto teria lugar por ocasião da colonização do Piauí, em fins do século XVII, por causa do verso que diz: o boi morreu e que mande buscar outro no Piauí. Acha ainda Pereira da Costa que o espetáculo deveria ser originário de Pernambuco por causa desses versos


Cavalo-marinho
dança bem baiano
bem parece ser
um pernambucano.


Mas como justificar a tese que o boi de Pernambuco é o mais antigo, já que nenhum documento prova isto? O Boi-bumbá, do Amazonas, Boi de Reis, do Maranhão, Boi Surubi, do Ceará, o Boi Calemba, do Rio Grande do Norte, o Cavalo-marinho, da Paraíba, o Boi de mamão, de Santa Catarina e o Boizinho, do Rio Grande do Sul, também poderiam reivindicar o posto de antiguidade. O de Pernambuco, isto sim, possui marcas próprias, peculiares à zona, assim como os outros também apresentam características de suas regiões.


Tradicionalmente representado durante o ciclo de Natal, hoje já se exibe até no carnaval, o Bumba-meu-boi é associado às representações que, desde a Idade Média, eram dadas por ocasião da Festa da Igreja, mas as festas de bois também existiram em outros países há muito tempo, desde o Boi Ápis, a Vaca Ísis, o Touro Mnéris, o Boi Geroa, o Boi de São Marcos ao Touro Guaque, é um nunca acabar de influências, afinidades, etc.

A representação do Bumba-meu-boi demora normalmente 8 horas, o espetáculo é representado em arena, onde o público fica em pé, formando uma roda, até que pelo calor da representação quando a roda se aperta mais, a Burrinha, ou Mateus, ou Bastião abre-a novamente às custas de investidas e bexigadas em cima das pessoas.
Os atores, a exemplo do Teatro Grego, usam máscaras, quando não, usam o recurso do rosto bem carregado de carvão ou farinha de trigo que vai se assemelhar à própria máscara. Não há mulheres na representação do Bumba-meu-boi. Os papéis femininos são representados por homens travestidos. A exceção é feita para a Pastorinha, que é uma menina ou adolescente, nunca uma mulher feita.




COMPONENTES DA ORQUESTRA.

O outro elemento feminino usado na brincadeira, é a Cantadeira, sentada ao lado da orquestra que é composta por Zabumba, Ganzá e Pandeiro que é tocado pela cantadeira nas suas toadas e loas. O pagamento dos atores do Bumba, quando não são contratados para alguma festa, é feito geralmente passando o chapéu por Bastião ou Mateus durante a representação, cabendo ao espectador dar ou não dar a sua contribuição, correndo o risco de levar bexigadas se o dinheiro for pouco ou nenhum.


Os personagens do auto são classificados em três categorias: humanos, animais e fantásticos. O enredo praticamente é o mesmo para todos os bois.

A pastorinha perde o boi que estava sob sua guarda
e sai procurando o boi pelas redondezas.
Nesta procura vai encontrando os diversos
personagens que compõem o espetáculo,
até o final quando encontra o boi morto
e que depois é ressuscitado.


PERSONAGENS HUMANOS


MESTRE SALUSTIANO.

O Capitão é o dono da festa. É ele quem, falando, cantando, dançando, comanda o espetáculo. No princípio vem a pé, mas depois surge montado no cavalo-marinho.
Os seus principais servidores são Mateus e Bastião, os dois trazem nas mãos, bexigas de boi cheias de ar.
Junto ao cavalo do Capitão está o Arlequim, que faz as vezes de pajem.

Catirina é uma negra despachada e cantadora que em alguns bumbas termina como mulher de Mateus; a Pastorinha é a dona do boi que se perdeu e a quem ela procura; o Turtuqué é o valentão, o fanfarrão que termina desmoralizado; tem ainda o Engenheiro, o Padre, o Doutor Penico Branco, Mané-gostoso, Zabelinha, Sacristão, Fiscal, Mestre Domingos, Mestre do Tear, Romeiro, Matuto do Fumo, Queixoso, Dona Joana, Caboclo do Arco, Capitão do Campo, Barbeiro, Boticário, João Carneiro, etc.


ANIMAIS

A Ema, a Burrinha, a Cobra, o Pinica-pau, e o Boi, que é a figura principal do folguedo.

FANTÁSTICOS

A Caipora, o Diabo, O Babau, o Morto-carregando o vivo e o Jaraguá.
Os saudosistas lamentam que o bumba-meu-boi tenha sido adulterado com o passar dos tempos, mas como diz Hermilo Borba Filho no livro APRESENTAÇÃO DO BUMBA-MEU-BOI....isto é uma bobagem, todo espetáculo popular vai recebendo, dia a dia, influências da hora e ele é feito por artistas populares e não eruditos...
Por isso é que vive o Bumba-meu-boi, por ser um espetáculo popular, feito pelo popular, o artista puro e ingênuo que continua cantando:

OS INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA BRINCADEIRA.

Meu boi morreu
que será de mim?
manda buscar outro,maninha,
lá no Piauí.