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Você sabe quem foi Padre Henrique?

Por Olívia Mindêlo

Antônio Henrique Pereira da Silva Neto foi um jovem padre da Arquidiocese de Olinda e do Recife. Ligado ao arcebispo Dom Hélder Câmara, um dos nomes mais expressivos da Igreja Católica nos tempos da repressão militar brasileira, o sacerdote seguia com sua missão junto à juventude estudantil pernambucana quando o destino cruel o colocou na história do País. De jovem padre virou mártir da ditadura, regime do qual foi vítima em 1969, poucos meses após a implantação do rigoroso Ato Institucional nº 5 – o AI-5.

Era manhã do dia 27 de março daquele ano quando seu corpo foi encontrado largado na Cidade Universitária. As marcas eram de um assassinato brutal: hematomas por todo corpo, rosto desfigurado, tiros na cabeça, cordas no pescoço, sinais de facada. Um retrato sombrio da tortura. A revelação de um regime político de recessão que não poupou nem mesmo a igreja.

Em 1986, depois de quase 20 anos de processo, o caso do padre foi arquivado por falta de provas, apesar das evidências apontarem para um crime de cunho político, bem comum nos porões de chumbo. Naquele tempo, qualquer “ameaça” ao governo era perseguida, arrastada e eliminada. Foi assim com Padre Henrique, que, de acordo com pesquisadores e pessoas que conviveram com ele na época, representava um incômodo ao regime, sempre a postos para combater a politização da igreja.

A despeito dessa tentativa, a sua morte fez o movimento político contra a ditadura em Pernambuco se intensificar, apesar das perseguições à família do padre e a estudantes ligados a ele. Logo após seu assassinato, o pai dele foi preso e interrogado por cinco horas, e um dos irmãos, perseguido. Enquanto isso, a família recebia ameaças de todo tipo. O historiador Diogo Cunha explica que sua missão não era exatamente política, de enfrentamento ao regime, mas assim foi vista, porque trabalhava junto a jovens e, sobretudo, porque estava ligado a Dom Hélder. Era tempos de ditadura, revolução estudantil, mas sua missão, segundo Cunha, era aproximar a família, promover união e paz entre pais e filhos.

Uma das passagens de seu livro Estado de exceção, igreja católica e repressão: o assassinato do padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto, se expressa também em outro sentido, a partir da fala do padre Romano Zufferey, outra personagem importante do movimento político católico da época. Ele diz que o padre Henrique fora assassinado “por sua tentativa de libertar o povo, através da pregação de um evangelho autêntico.”

BIOGRAFIA - Padre Henrique nasceu no dia 28 de outubro de 1940, no Recife, durante a ditadura de Getúlio Vargas. Primogênito de uma família de 12 irmãos, filho de um pai marçom e de uma mulher que resolveu fazer direito só para estudar o caso do seu assassinato, Antônio Henrique entrou para o Seminário da Imaculada Conceição, na Várzea, aos 16 anos. Só nove anos depois foi ordenado padre por Dom Hélder Câmara. Antes disso, chegou a trabalhar em um banco.

Depois de sua morte precoce aos 29 anos, seu nome virou uma referência na história do Recife. Na cidade, está lembrado em praça, monumentos e numa escola, a Escola Municipal Padre Antônio Henrique, situada no Derby, com mais de 350 alunos. Todos os dias eles honram, na própria farda, essa personalidade cujo desfecho de vida lamentável não o tornou menos importante na história de construção por uma juventude mais esclarecida. Um nome para não esquecer, um fato para não se repetir.

Escola Municipal Padre Antônio Henrique
Rua Viscondessa do Livramento, 290, Derby. RPA1.