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Natal 2005

Tema:
É NATAL! O BUMBA-MEU-BOI VAI ANIMAR A FESTA!

Meu boi morreu
que será de mim?
manda buscar outro
, ô maninha,
lá no Piauí

É Natal! O sagrado e o profano apresentam­-se e passam a compor o rico e complexo universo do catolicismo popular. E o simbólico, como forma de ressigni­ficação, por meio da memória coletiva, é expresso pelas manifestações artísticas.

Eis o nosso papel, fortalecer as expressões culturais como produtos de uma história social, reacender a chama dos brinquedos mais puros que resultam no processo de sentir e traduzir nossas realidades.

Assim temos o Bumba-meu-boi: um dos mais puros espetáculos nordestinos. Manifestação cultural que ultrapassa o limite do folguedo e se constitui num teatro popular. Um auto dramático com personagens humanos, fantásticos e animais. Cotidiano e religiosidade populares onde estão presentes a morte e ressurreição do animal e as picardias entremeadas por músicas e danças variadas.

Presentes no imaginário popular, desde tempos imemoriais, a figura do boi sempre esteve ligada a rituais, folguedos e manifestações caracterizadas pelo domínio do homem sobre o animal. No Nordeste brasileiro desde a colônia temos no vaqueiro um elemento forte e destemido, identificado com o trabalho de aboiar. A Civilização do Couro, aí desenvolvida com bases na pecuária, fundamenta um ditado popular que diz: do boi só se perde o berro!

No Recife e em outras cidades de Pernambuco, o Bumba-meu-boi leva para as ruas seu colorido, improviso e alegria. Identificado com o ciclo natalino, quando apresenta o auto dramático, migra para o carnaval como um desfile onde a brincadeira corre solta. Já em outros estados se apresenta durante os festejos juninos.

Segue o Bumba-meu-boi suas andanças, pedindo passagem para a alegria e beleza, reunindo a gente, animando a festa, sobrevivendo às influências externas e reatualizando nossas identidades, como toda manifestação feita e vivida pelo povo.

AS ORIGENS

As celebrações natalinas nasceram antes do Cristianismo. Naquela época, o calendário das estações marcava as datas das grandes festas para os vários povos. A partir de 25 de dezembro, os dias ficavam mais longos e mais quentes até chegar o verão.
Na Roma Antiga, no período compreendido entre 17 e 24 de dezembro, comemorava-se uma das mais importantes festas do ano, as saturnais. Com o Cristianismo, a partir do século IV d.C, fixou-se a data de 25 de dezembro para comemoração do Natal, que ficou popular em toda a Europa Cristã.
No Brasil, a celebração começa pouco tempo depois da chegada dos primeiros colonizadores, com a instalação de núcleos missionários, principalmente os jesuíticos. Esses missionários, participantes ativos do processo de colonização e catequese dos povos indígenas, organizavam peças teatrais com músicas e missas campais, como forma de atrair as atenções dos nativos.
Os festejos natalinos encerram-se no dia 6 de janeiro, Dia de Reis, com a queima da Lapinha, marcando o início do Ciclo Carnavalesco. Em Pernambuco, como em todo o Nordeste, as celebrações natalinas encontram um ambiente muito próprio às expressões culturais do nosso povo. É momento de trocar, reforçar os laços de fraternidade; tempo de brincar no Bumba-meu-boi, no Cavalo-marinho. Participar da beleza do Reisado, do Pastoril, do Fandango, de viajar pelo imaginário popular, numa ação manifesta.

O BUMBA-MEU-BOI

Remontam à antiguidade, as festas de glorificação e exaltação da figura do Boi. Espalham-se por toda a região do Crescente Fértil e constituem uma das principais celebrações da cultura egípcia.
Assim como a grande maioria das manifestações culturais, o Bumba-meu-boi tem nas suas origens uma forte presença religiosa, expressa na morte e ressurreição da entidade principal - o Boi.
No Brasil, a presença do Boi está ligada à força motriz desempenhada por esse animal, nas várias regiões, no Nordeste especificamente, aos engenhos de açúcar e carros canavieiros.
Assim nasce o Bumba-meu-boi, entre o real e o imaginário popular, um dos mais puros espetáculos nordestinos. Auto dramático com personagens humanos, fantásticos e animais, um verdadeiro teatro de arena.
Fruto da aglutinação ibérica, africana e indígena, o brinquedo incorpora situações, personagens e entremeios de diversas outras manifestações populares, diferindo de região para região, e recebe várias denominações: no Amazonas, Boi-Bumbá; na Paraíba e no Maranhão, Boi-de-Reis; no Ceará, Boi-Surubi; Boi Calemba ou Calumba, no Rio Grande do Norte; Rancho-de-Boi, na Bahia; Bumba-de-Reis, no Espírito Santo; Boi-Pintadinho, no Rio de Janeiro; Boi-de-Mamão, em Santa Catarina, e Boizinho ou Boizonho, no Rio Grande do Sul. Em algumas áreas também é chamado de Cavalo-marinho.
No Recife, o Bumba-meu-boi leva às ruas seu colorido, também no período de Carnaval. Em alguns estados se apresenta durante os festejos juninos.
O brinquedo não pode prescindir de orquestra, para nós, composta por matracas, chocalhos, zabumbas, ganzás, caixas, pandeiros e apitos. O uso das máscaras é muito comum durante as apresentações do Bumba e do Cavalo-marinho, reduzindo o elenco e permitindo que um ator represente vários personagens.

BOI DE CARNAVAL

A brincadeira aparece no carnaval como uma forma derivada do Auto de Natal que representa a morte e ressurreição do Boi. Embora nele se notem algumas influências européias, sua estrutura, seus temas, seus tipos e sua música são essencialmente brasileros.
Por ser uma manifestação ingênua, e sem muito luxo, o Boi vem resistindo com dificuldades a um tempo de grandes espetáculos visuais.
O colorido, o improviso e a alegria da evolução dos personagens caracterizam essa manifestação extraordinária. A agremiação algumas vezes sai com mais de cinqüenta figuras e faz a alegria das classes mais humildes pondo em polvorosa a criançada
Brinquedo de coreografia singular, com estilos musicais de características variadas, surpreende e diversifica os festejos carnavalescos.

O CAVALO-MARINHO

Auto natalino - típico da Zona da Mata Norte de Pernambuco e de algumas regiões da Paraíba. O espetáculo tem início quando os músicos homenageiam os donos do terreiro e o público. Tocam sentados (banco) e as músicas são chamadas de toadas (versos cantados) e loas (versos falados).
A dança do Cavalo-marinho é bastante animada e seu ritmo é marcado por um sapateado que lembra o galope dos cavalos. São passos rasteiros intercalados de saltos rápidos, para levantar poeira.
São 76 personagens ao todo, entre humanos, animais e fantásticos. As figuras mais conhecidas são Mateus, Bastião, os galantes, as damas, o Capitão e o Soldado. Entre os animais, destacam-se o Boi e o Cavalo.
A festa é coordenada pelo Capitão Marinho. Os amigos, Mateus e Bastião, dão bexigadas em todos que entram na roda, divertindo o público.
Os galantes e as damas, formando pares, realizam um baile em honra aos Santos Reis do Oriente, cantam loas e fazem a dança de São Gonçalo dos Arcos.
São apresentadas diversas situações, entre elas, momentos do Reisado e do Bumba-meu-boi, terminando com a morte e ressurreição do Boi.

QUEM É QUEM NA APRESENTAÇÃO

Em razão do seu caráter aglutinante, o brinquedo incorpora personagens de diversas manifestações populares, diferindo de região para região, cada um com suas particularidades: história, indumentária, toada, dança.

Os personagens são classificados em três categorias:
Humanos: o Capitão - representa a figura do fazendeiro, montado no seu Cavalo-marinho comandando todo o espetáculo; Mateus, Catirina e Bastião - são três personagens que representam cenas hilariantes de comédia. Catirina é uma negra cantadeira, despachada, sempre com as mãos nos quartos; os outros dois são grandes trapaceiros, que fazem sátira das fraquezas humanas. Trazem nas mãos bexigas de boi cheias de ar, com as quais criam cenas de pancadaria. A Pastorinha - interpretada por uma adolescente, é a dona do Boi. O Engenheiro - surge durante a festa para medir as terras do Capitão; o Padre e o Sacristão - influência do catolicismo, aparecem para ressuscitar o Boi; o Doutor - tenta ressuscitar o boi com seus diagnósticos e receitas, ironizando, muitas vezes, a medicina; o Tuntunqué - figura afoita, termina sempre desmoralizado. Dona Joana - a dona da ema; seu Manuel do Babau - o dono do Babau; o Curandeiro, o índio, o guarda, o fiscal e o bêbado - alguns dos muitos tipos humanos que aparecem no Auto.
Animais: o boi - figura principal, confeccionado utilizando-se uma armação de arame ou ripas de madeira recoberta de panos vistosos; a cabeça, algumas vezes, é construída usando-se a caveira e os chifres do animal; a ema e o urubu - como todos os outros personagens, são movimentados por condutores escondidos por baixo da armação; a burrinha e o cavalo-marinho - seguem a mesma estrutura do boi, com uma abertura central que mostra os condutores; a cobra - surge no espetáculo para morder Mateus e Bastião.
Fantásticos: a Caipora - figura mitológica de origem indígena, significa mau presságio; Babau - figura fantástica, é conduzida por seu Manuel do Babau; o Morto-carregando-o-vivo - personagem imaginário, caracteriza-se pelo ser inanimado carregando o ser vivo; Mané Pequeno - boneco gigante, vestido e conduzido por um homem; Jaraguá - fantasma de cavalo que dá bote nos personagens e amedronta o público, assim como o Diabo - personagem ligado ao mal.