Em pauta, o trabalho de letristas populares e sua relação com a produção tipográfica digital

Por Juliano Muta

O ofício de letrista pode ser observado em qualquer grande centro urbano do mundo. Basta ficar atento em algum gueto comercial que se pode perceber a diversidade dos letreiros e os elementos de design que são utilizados espontaneamente por esses profissionais. Para ajudar a compreender esse universo tipográfico, na noite desta quinta-feira (8), o Centro de Design do Recife, equipamento cultural da PCR, deu início à exposição Tipografia Vernacular - Do analógico ao digital, com um debate que reuniu especialistas no assunto.

A mostra foi pensada a partir da tese de mestrado da designer Fátima Finizola, intitulada Tipos Populares Digitais – Uma análise da transposição dos letreiramentos populares para a produção tipográfica digital. No estudo, a pesquisadora se ateve aos letreiros informativos que continuam sendo feitos à mão, apesar das novas tecnologias. O acervo da exposição apresenta uma seleção de fotografias desses trabalhos que foram transportados por diversos designeres brasileiros para a linguagem tipográfica digital, gerando fontes e tipos originais.

A curadoria da exposição fica por conta da própria Fátima e de Damião Santana, designer formado pela Universidade Estadual da Bahia (Uneb) e Especialista em Design da Informação pela UFPE. Ambos fazem parte do coletivo de designeres Crimes Tipográficos. O debate também contou com a participação do professor de Design da IFPE, Josinaldo Barbosa, especialista em tipografia. “Muitos desses letreiros estão desaparecendo por conta do uso ou mau uso da tecnologia. Mas ainda podemos encontrar esse nicho nas periferias, principalmente em murais, que são muito vistos no Recife”, comentou Fátima.

O debate foi aberto pela designer, que fez uma breve apresentação de sua tese, introduzindo o tema. Através de fotografias de letreiros populares de grandes cidades brasileiras e até de outros países, ela traçou semelhanças entre as peças e analisou elementos da tipografia, seja nos trabalhos feitos por profissionais ou nos de improviso. Durante sua explanação, a pesquisadora alertou ainda para o fato desses trabalhos manuais estarem sendo substituídos por layouts gerados no computador, muitas vezes perdendo o valor estético enquanto, em contrapartida, a indústria do design se apropria cada vez mais dos símbolos populares. Em seguida, Josinaldo Barbosa apresentou o trabalho de tipografia que desenvolve com seus alunos na criação de novas fontes e dingbats, através de softwares e por métodos experimentais

Crimes Tipográficos: Crimes Tipográficos é um projeto colaborativo, iniciado no ano de 2000, no Recife, pelos designers Damião Santana e Fátima Finizola. Surgido a partir de uma brincadeira na Pós-graduação em Design da Informação da Universidade Federal de Pernambuco, os primeiros Crimes Tipográficos eram ilustrações desenvolvidas a partir de tipos, pelo designer Damião Santana, para um projeto editorial realizado durante o curso. Mais adiante, com a disciplina de Tipografia Digital ministrada por Priscila Farias, inicia-se de fato o projeto das primeiras fontes que caracterizariam o grupo experimental como uma fonthouse. Desde então os Crimes Tipográficos se transforma num dos projetos paralelos do Estúdio Corisco Design e mais adiante abre suas portas para novos colaboradores.

Confira mais em www.crimestipograficos.com.br.

Serviço:
Exposição Tipografia Vernacular: do analógico ao digital
Debate com os curadores - Fátima Finizola e Damião Santana [Crimes
Tipográficos] - e convidados.
Onde: Galeria do Centro de Design do Recife, casa nº 10, Pátio de São Pedro
Período da Mostra: de 8 de julho a 8 de setembro de 2010, das 9h às 17h, de segunda a sexta-feira
Outras informações: 3355-3147

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