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Cultura

MUSEU MURILLO LA GRECA ABRIGA EXPOSIÇÃO COLETIVA ESPELHOS MEUS

A imagem feminina através da fotografia conduz o olhar da exposição coletiva Espelhos meus, no Museu Murillo La Greca, equipamento administrado pela Prefeitura do Recife. A mostra reúne trabalhos de quatro fotógrafos-artistas a partir da curadoria da jornalista pernambucana Olívia Mindêlo. Com abertura nesta terça-feira (3), às 19h, a exposição foi uma das três escolhidas para ocupar a pauta da instituição ao longo deste ano, a partir da seleção nacional do Projeto Amplificadores 2008.

Tendo como enfoque a criação fotográfica atual, a exposição foi concebida para divulgar ensaios inéditos de quem lida com a imagem sob uma perspectiva poética. A elaboração da curadoria não seguiu um único tema, em torno do qual os participantes da coletiva deveriam se debruçar, mas trilhou um percurso intuitivo por questões comuns percebidas entre trabalhos que vinham chamando atenção da curadora, sobretudo no que concerne o discurso fotográfico livre das amarras documentais.

De formas diferentes, os trabalhos do quarteto se aproximam do universo feminino no contexto contemporâneo, sinalizando para uma continuidade da representação da mulher na história arte, neste caso sob um olhar de ambos os sexos. Para isso, a curadora fez o convite a duas mulheres – Adelaide Ivánova (PE/SP), que atende pelo codinome de "Vodca Barata", e Lali Masriera (Espanha), conhecida na internet como "Visual Panic" – e dois homens, Bruno Vilela (PE) e Alexandre Belém (PE). Com idades entre 24 e 34 anos, eles equilibram perspectivas fotográficas distintas, acenando para as fronteiras que separam realidade e ficção, ao mesmo tempo em que fazem refletir sobre essa imagem feminina, por trás ou diante das câmeras, nos dias atuais.

Cliques -
Ao todo, 28 imagens compõem a mostra. A subjetividade é o fio que pontua as poéticas de Adelaide Ivánova e Lali Masriera, que assinam os trabalhos Sexy Back: Justin, brigada por tudo e My Ego and Me, respectivamente. São auto-retratos que assumem ora a representação do real, ora da fantasia, como é o caso de Adelaide, que exprime seu alter ego por meio de uma fotografia performática, em torno do próprio corpo e imagem.

Adelaide dá as boas-vindas ao visitante, ocupando a primeira sala do museu com cinco painéis de imagens que ela tirou dela mesma, ao assumir a persona fashion, sensual e extravagante de Vodca Barata, no momento em que ela se curva ao seu "muso inspirador" Justin Timberlake, um dos jovens ícones da música pop norte-americana. Para isso, a artista vai beber no universo do segundo disco solo dele, Futuresex/Lovesounds. Para executar o ensaio, posa para as próprias lentes como se estivesse numa passarela, num palco ou numa pista de dança, perspectiva traduzida na técnica do "snapshot", com flash grosseiro e direto, com direito a produção de maquiagem e look montado. Sexy Back - Justin, brigada por tudo nasceu em 2006 e já passou por São Paulo (Casa da Xiclet), Rio de Janeiro (Parque Lage) e Belo Horizonte (Sesi). A exposição do Recife se detém nos auto-retratos do ensaio, acrescentando mais duas fotografias da série Fashion Victim - Estorei meu Mastercard, que acompanha sua proposta auto-reflexiva.

Já a catalã Lali Masriera trilha um caminho sereno. Seus oito retratos em preto-e-branco, ou em tons sóbrios de cor, refletem o cotidiano de alguém que parece não largar a câmera da mão um minuto do dia. Lali é designer, mas tem na fotografia um hobbie de extrema qualidade profissional, postado diariamente em sua página do Flickr na internet, onde ela foi encontrada para a mostra. Nessa série, estão fotos de seu universo particular, em que ela também aparece, embora utilize uma linguagem metonímica para falar de si, lançando mão de signos, como seu olho ou mesmo uma cadeira, para dar pistas de quem ela é. O "quebra-cabeça", um "working in progress" iniciado em 2004, se compõe por meio de imagens minimalistas e delicadas, todas auto-referentes, como o próprio título do ensaio - Meu Ego e Eu - sugere.

Bruno Vilela e Alexandre Belém apresentam os trabalhos Bibbdi bobbdi boo e Imagem de dentro, respectivamente. Eles fazem um mergulho em questões existenciais, brincando com o jogo real x ficção, sempre tão caro à imagem fotográfica.

Em Bruno, vemos a desconstrução do mito Cinderela, ironizado desde já pelo próprio título, uma referência à "palavra mágica" do conto de fadas que transforma ratos em cocheiros e abóbora, em carruagem. Destruindo a psicologia da criação das "boas-moças", o artista veste a carapuça de lobo-mau e "assassina" ícones de fábulas infantis, como Alice, Branca de Neve e Chapeuzinho Vermelho, num "passe de mágica", ou melhor, num clique. "Bruno, o caçador, com sua câmera, realizou o sonho da madrasta. Alguém um dia finalmente cumpriria a sentença: matar Branca de Neve. Salvou as meninas do seu destino de bobas", escreve a filósofa e escritora Márcia Tiburi, no texto crítico que escreveu a convite do próprio artista.

O curioso é que ele não só clicou como produziu todas as imagens: da concepção da maquiagem e do figurino, com tecidos da exata cor dos personagens dos filmes, à escolha das locações onde fotografou a atriz Renata de Fátima repleta de sangue cênico. O resultado da pesquisa lembra o de um still cinematográfico ou mesmo de uma pintura. Dessa seqüência, estão expostas seis imagens.

Alexandre Belém, que, como Adelaide, vive profissionalmente da fotografia, também brinca nesse terreno movediço de representações, nos apresentando uma manequim-personagem extremamente expressiva, "quase viva", ao ponto de hesitarmos se estamos diante de um ser humano ou de uma boneca. É quase uma replicante saída do filme Blade Runner, que, da condição de objeto ou mercadoria, passa a ter sentimento, pelo menos na visão dramatizada que o fotógrafo nos traz nas sete fotografias da exposição.

Espelhos Meus marca a estréia de Olívia Mindêlo como curadora. Ela é repórter de artes visuais do Jornal do Commercio, de Pernambuco, há dois anos. Além dela, a comissão julgadora do Amplificadores 2008, formada por Clarissa Diniz (crítica de arte), Cristiana Tejo (diretora do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães – Mamam) e José Paulo (artista plástico), selecionou as propostas de Fábio Tremonte (SP) e Krishna Passos (DF).


Espelhos meus
Abertura: 3 de junho de 2008, às 18h, no Museu Murillo La Greca – Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti, 366, Parnamirim.
Recife, PE, Brasil
Em cartaz até 12 de julho.
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