O mais importante selo especializado em jazz do mundo, o Blue Note, completa 70 anos em 2009. O que poucas pessoas sabem é que a gravadora foi fundada por dois irmãos alemães - e que essa é apenas uma das contribuições germânicas a esse estilo musical. O jazz influenciou a Alemanha e foi influenciado por ela - chegou nos anos 1920 em meio à onda do modismo americano, atravessou a Segunda Guerra e foi proibido durante o nazismo, ganhou características distintas de um e outro lado do país enquanto a Guerra Fria dividia esse ao meio. Hoje tendo o jazz como parte indissociável de sua identidade, a Alemanha é destaque no cenário mundial do gênero.

Para desvendar um pouco dessa história, a exposição Jazz Alemão está trazendo ao Recife informações e fotografias retratando os vários aspectos dessa relação quase centenária. São 15 banners de grande formato com textos em alemão, inglês e português. Além da música ambiente, a exposição também disponibiliza aparelhos de MP3 para que os visitantes possam escutar trechos de músicas. A mostra fica em cartaz até 16 de abril no Museu da Cidade do Recife (Forte das Cinco Pontas).

Década a década, o material mostra as várias fases do jazz na Alemanha, país da Europa que melhor acolheu este estilo musical tipicamente americano. A narrativa começa na década de 20, com as primeiras apresentações de bandas dos Estados Unidos em Berlim e vai até os dias atuais, apresentando os músicos alemães que alcançaram o reconhecimento internacional. Clubes e festivais, rádios e censura, imprensa e gravadoras especializadas, músicos e big bands - todos são temas presentes na exposição.

O material foi pesquisado e organizado pelo Jazzinstitut Darmstadt em parceria com o Goethe-Institut, que já levou a exibição para cidades como Roma, Ankara, Belgrado, Izmir, Jerusalém, Cairo, Nancy e Strassburg. A realização na capital pernambucana estã a cargo do CCBA - Centro Cultural Brasil Alemanha, com apoio da Prefeitura do Recife – que é a primeira cidade brasileira a receber a exposição, que, em seguida, vai para Curitiba.

Fatos sobre o jazz na Alemanha

- A música afroamericana já era escutada na Alemanha desde 1870, mas o jazz propriamente dito chegou ao país na década de 1920. Nessa época, o estilo era apenas parte do american way of life que chegava à Alemanha também através da dança e da moda. Neste período, aliás, o jazz era muito mais associado a um jeito de dançar do que música em si.

- Durante o nazismo, a divulgação do jazz nas rádios alemãs foi proibida em 1935 pelo então ministro da propaganda Joseph Goebbels. A dança era considerada lasciva; mas há outra questão envolvida: os nazistas não viam com bons olhos a admiração a músicos judeus como Benny Goodman e Artie Shaw.

- O jazz era então considerado uma música não-alemã. Para escapar à censura da Câmara de Música do Reich - órgão responsável por aprovar o repertório das rádios e concertos - os músicos mascaravam o jazz, às vezes apenas traduzindo os nomes das músicas, originalmente em inglês, para o alemão. Os censores, na verdade, não conseguiam diferenciar o jazz de outros ritmos dançantes em voga na época.

- O jazz floresceu na Alemanha com o fim da guerra e de maneira quase que imediata. Centros produtores da música surgiram em Hamburgo, Munique, Berlim e Frankfurt. A música servia para marcar a diferença daqueles novos tempos com relação ao passado nazista, que o renegava.

- Com a divisão da Alemanha durante a Guerra Fria, o isolamento imposto ao lado oriental, dominado pelos russos, a tudo o que vinha dos Estados Unidos, acabou fazendo com que os músicos do jazz desenvolvessem um estilo próprio da República Democrática da Alemanha, baseado principalmente em improvisações dentro de estruturas ordenadas.

- Há quatro grandes festivais de jazz na Alemanha. Eles acontecem nas cidades de Frankfurt, Berlim, Moers e Leipzig. O mais antigo é o German Jazz Festival, que acontece desde 1953 em Frankfurt.

- O primeiro curso de jazz no mundo surgiu no Conservatório de Frankfurt, por iniciativa do cellista e compositor Mátyás Seiber. Atualmente, quase todos os conservatórios da Alemanha oferecem o ensino do jazz.

- Há vários selos alemães especializados em jazz, incluindo o Mod Records, FMP, enja, ECM. A mais famosa contribuição alemã para a indústria fonográfica jazzística, no entanto, nasceu em solo americano. Explica-se: o selo Blue Note, mundialmente conhecido, foi fundado pelos irmãos alemães e judeus Francis Wolff e Alfred Lion em 1939, depois de imigrarem para os Estados Unidos para escapar à Segunda Guerra Mundial.

SERVIÇO
Exposição Jazz Alemão
Local: Museu da Cidade do Recife (Forte das Cinco Pontas)
Visitação: até 16 de abril
Horário: Terça a sexta, das 9h às 17h; sábados e domingos, das 13h às 17h
Ingresso: R$ 1,00
Observação: Visitas guiadas podem ser agendadas com o Museu, através do telefone (81)3232-2812

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