Entre a sanidade e a loucura, um fio condutor se estabelece como uma sensível conexão, traduzindo a natureza humana muito mais do que palavras inteligíveis: a arte. A arte como forma de expressão e como afirmação da cidadania. Seguindo esta idéia, o Programa Multicultural, da Fundação de Cultura Cidade do Recife (FCCR), integrado à 8ª edição do SPA das Artes, ofereceu oficinas a um público muito especial: os internos do Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambucano, no bairro da Tamarineira. Durante uma semana, os usuários do sistema de saúde mental do Município se integraram às atividades, que culminaram com a exposição “Expressões”, aberta ao público na tarde desta sexta-feira (18).

A exposição representou o resultado das atividades desenvolvidas com os internos ao longo semana. Uma festa foi preparada para celebrar esse momento, integrando usuários e o público externo. A iniciativa teve como objetivo dar visibilidade a essas pessoas que sentem na pele a lógica da exclusão, proporcionando-lhes a oportunidade de se expressar, expondo suas percepções do mundo e sua sensibilidade tão particular. “O SPA sempre teve essa proposta de descentralização. Mas aqui essa descentralização tem um caráter bem mais simbólico. Porque esse público, além da carência financeira ou de moradia, tem também a carência afetiva. E o mais importante nisso é a interação dessas pessoas com profissionais da arte, o que resulta numa troca de pensamentos e de experiências”, observou o gerente de Artes Visuais e Design do Recife e coordenador geral do SPA das Artes, Márcio Almeida.

Seis oficinas com seis artistas diferentes tomaram conta do cotidiano do Hospital e dos internos. Cada uma tendo como suporte uma linguagem e uma idéia diferente: Auto-Máscaras (de Maria Oliveira, PE); Fotopintura (Mestre Júlio dos Santos, CE); Retratolhoauto (Rinaldo Silva, DF); Se eu Pudesse, Eu Tapeçaria (Vera Lúcia, PE / Rinaldo Silva, DF); e Palavragesto (Lula Wanderley e Gina Ferreira, RJ); e Minha Cabeça, Nossa Natureza (Cristina Machado, PE). Esta última foi uma das que melhor representou a expressão “interação”. A partir de 60 cabeças em argila, autorretratos da artista, os alunos dialogaram com as peças, através de intervenções, criando sua própria obra. Sobre as diferenças entre o público externo e os usuários do Hospital, no que diz respeito à expressão da sensibilidade, Cristina ressaltou que, apesar de muitas semelhanças, a liberdade é o que mais os difere. “As pessoas lá de fora ficam muito presas a conceitos, cheias de pudores, o que atrapalha um pouco a criação artística. Aqui, não. Eles (os internos) são livres como crianças”, disse.

 

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