Num mundo onde nos deparamos com uma infinidade de diferenças entre nós e outras nações, a música é uma das poucas linguagens que consegue congregar etnias e revelar mais semelhanças do que se poderia imaginar. Na tarde desta sexta-feira (06), o Memorial Luiz Gonzaga (MLG), no Pátio de São Pedro, foi o local onde essas semelhanças se tornaram ainda mais evidentes, a partir do encontro entre os músicos grupo francês La Talvera e os artistas Luizinho Calixto e Antonio Lisboa.

Em sua terceira visita ao Recife, onde estão desde o último dia 27, os franceses vieram estreitar laços com a nossa tradição musical. Oriundos do Sul da França – da região da Occitania – os integrantes do grupo La Talvera destacaram que a música de sua terra natal encontra correspondência em muitas das referências da música popular nordestina. Entre outras coisas, os instrumentos utilizados (como acordeon, pífanos, etc), os ritmos (xote, forró, mazurca), assim como o canto dos repentistas – que remonta aos trovadores da Europa Medieval.

A partir da observação dessas semelhanças, os músicos começaram a focar suas pesquisas no universo da sanfona de 8 baixos, do repente e do coco de roda. Segundo Daniel Loddo (autor-compositor, cantor e acordeonista), as raízes da música popular dos dois países é o ponto de intersecção que possibilitou esse encontro. “Aqui, nós encontramos muitos aspectos semelhantes com a nossa região no Sul da França. Principalmente, na cultura popular”, disse Loddo, que acredita ser esse encontro uma grande oportunidade de atravessar barreiras. “Tanto aqui como na França, essa cultura popular não tem tanto espaço na mídia. Por isso, quando nós viemos aqui ou quando músicos brasileiros vão à França, acabamos valorizando ainda mais nossas culturas”, continuou.

O acordeonista Luizinho Calixto, mestre nos 8 baixos, e o violeiro Antonio Lisboa, que recepcionaram o La Talvera, também não esconderam a satisfação pelo encontro. Para Calixto, o contato entre essas duas culturas acaba despertando um olhar diferente sobre as formas de interpretação que cada um dá a coisas próximas. “É muito interessante quando você vê um músico de outro país tocando um instrumento que tem o mesmo porte físico que o seu. Você observar a interpretação e a expressão no rosto dele. Por isso, a interação é uma coisa muito benéfica. É uma troca de valores muito importante”, declarou.

Para Daniel Loddo, esse intercâmbio também possibilita desconstruir visões estereotipadas e ambos os lados. “Na França, quando se fala em cultura brasileira, eles (franceses) só conhecem o Carnaval, o samba. Igual aqui, em que os brasileiros só conhecem Paris. E é importante saber que existem outras riquezas na França. Assim como o nosso trabalho também é fazer com que se conheçam outras coisas que estão presentes no Brasil”, afirmou.

Quem também participou do encontro foi Sérgio Campello, diretor musical do grupo Sa Grama. Ele destacou que muito além das semelhanças mais nítidas que se pode observar entre a duas culturas, a música é elemento aglutinador de pessoas e de idéias. “Esse intercâmbio é muito importante, pois você vê o artista de perto, o jeito de ele tocar a música dele e, principalmente, a nossa música. Se você for para o Japão, por exemplo, é outra história. Mas, no fundo, a música tem uma linguagem universal. E se existe uma profissão em que, mesmo com línguas diferentes, a gente se entende, é na música”, finalizou.

 

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