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Cultura

TEATRO OFICINA ENCERRA TURNÊ DIONISÍACAS COM O BANQUETE
12:33 Domingo, 11 de Julho de 2010

Liquidificando tudo e todos, Zé Celso e sua libidinosa trupe exaltam o amor num clima de devoração geral, no Nascedouro de Peixinhos

Por Leonardo Vila Nova


Encerrando a turnê Dionisíacas em Viagem no Recife, o Teatro Oficina apresentou, na noite deste sábado (10), o último de uma série de quatro espetáculos que estiveram em cartaz esta semana, na Refinaria Multicultural Nascedouro de Peixinhos. O Banquete, do encenador José Celso Martinez Corrêa, não poupou em ousadia e fez o público “refletir” sobre o Amor, a partir de uma ótica nada convencional, onde todas as possibilidades de interação eram permitidas e exaltadas.

A estrutura montada pelo Oficina no local (chamada de Teatro de Extádio) estava completamente tomada por uma numerosa plateia, ansiosa pelo que veria durante cinco horas de espetáculo. E eis que num tom ritualístico, entram em cena atores, músicos e o “grão-mestre” Zé Celso. Na peça, o público é imerso no ambiente da Grécia Antiga, mais exatamente num banquete oferecido pelo ator Agatão (Marcelo Drummond) para seus convidados. Entre eles, os filósofos Sócrates (Zé Celso), Aristófanes (Rodolfo Dias Paes), Diotima (Camila Mota), Erixímaco (interpretado pelo ator pernambucano Anthero Montenegro) e os poetas Fedro (Lucas Weglinski) e Alcebíades (Fred Steffen). Durante espetáculo, eles cantam Eros, o Amor.

Num banquete literalmente regado a muito vinho, que é servido entre os atores e o público ao longo de toda a peça, eles celebram e exaltam todas as formas possíveis de amor. E como não poderia deixar de ser, a sexualidade é uma constante na poética do espetáculo de Zé Celso. Nudez, libido e prazer são elementos ao mesmo tempo sagrados e apoteóticos de uma narrativa alucinada, orgiástica e despida de qualquer pudor.

No texto, Zé Celso, como bom tropicalista que é, liquidifica tudo: Zeus, Jesus Cristo, Iemanjá, Pomba-Gira, bossa nova, rock e até mesmo o Rei do Pop, Michael Jackson, presente através da música Thriller. O nascimento da deusa Afrodite (questionando a condição da beleza no Amor) e a criação dos seres humanos (problematizando a condição humana e da sexualidade diante deste sentimento) também foram abordados. Essa proposta de diálogo estético com diversas referências também é marca do irrotulável Teatro Oficina, que sempre costuma chamar a atenção e causar polêmica por onde passa, ao carnavalizar o teatro e sua linguagem.

Em cenas quase sempre muito ousadas e provocativas, o encenador e sua trupe instigaram o público o tempo todo a comungarem desse desprendimento em cena. E conseguiram. A interação com parte da plateia chegou a um nível de intimidade sem precedentes, como se fossem todos parte de uma mesma bacanal. Alguns mais exagerados, provocando até mesmo ira de Zé Celso. Outros, em unicidade com a proposta do espetáculo. E ainda houve aqueles que ficaram de fora, só observando. Mas as reações, quaisquer que fossem, eram inevitáveis e se integravam como parte do espetáculo.

Entre os destaques, sem dúvida alguma, o que mais chamou a atenção foi a participação memorável de Eucrêmia de Oliveira, moradora de Peixinhos, que entrou por inteiro no clima do Teatro Oficina. Completamente nua, a lavadeira de 64 anos foi uma atração a parte e se integrou de forma absoluta ao espetáculo, arrancando gritos generalizados da plateia e sendo beijada por atores e atrizes. “Eu adorei participar e não tenho problema nenhum de ficar pelada, não. Desde a primeira peça, que perguntaram quem tinha coragem de ficar sem roupa, eu fui lá e fiquei. Foi ótimo! Está todo mundo de parabéns”, disse Eucrêmia, a nova musa do Teatro Oficina. 

A participação do público de Peixinhos coloca em evidência o objetivo do Teatro Oficina, que é possibilitar a uma parte da população que não costuma ter acesso ao teatro a experiência da fruição artística e a oportunidade de ver tamanha profusão de linguagens e quebras de padrões culturais e comportamentais. “Eu acho que esses espetáculos estão dentro da proposta do Oficina, que é caminhar por essas redes, por essas periferias que o grande teatro sempre deixou de fora. Acho que é muito mais interessante pra eles apresentar esse espetáculo aqui, em Peixinhos, do que num outro ambiente, pra classe burguesa e teatral do Recife. Aqui, alguém que nunca esteve num teatro, pode ter a oportunidade de vir e ver qual é, embora seja um tipo de teatro bastante peculiar”, disse o ator e poeta Biagio Pecorelli.

Sem dúvida alguma, Peixinhos nunca mais será a mesma depois da passagem do Teatro Oficina pelo Nascedouro. Zé Celso e seus atores encerraram sua turnê Dionisíacas no Recife da melhor forma possível, com um banquete onde, além de vinho, acarajés e ostras, na mais plena antropofagia, todos, absolutamente todos, foram servidos e devorados, num clima de celebração, para fazer valer uma das frases ditas no texto: “O Amor é desejo de imortalidade”.
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