Religiosidade e irreverência marcaram os festejos no Centro do Recife nesta terça-feira (22)

Por Juliano Muta

A tradição centenária do Desfile das Bandeiras de São João foi reavivada no início da noite desta terça-feira (22), a partir das 17h, com concentração na Rua Nova, esquina com Rua do Sol. O cortejo, que é realizado pela Prefeitura do Recife desde 1996, reuniu 14 bandeiras, num percurso que passou pelas ruas Duque de Caxias, Nossa Senhora do Carmo, Dantas Barreto culminando numa apoteose no Pátio de São Pedro, onde às 19h, a Quadrilha Circense fez sua estréia no São João do Recife.

A Procissão das Bandeiras tem origem agrária e remonta a antiga Europa. Foi trazida para o Brasil em conseqüência da colonização portuguesa e resulta do sincretismo dos cultos pagãos em homenagem aos santos católicos. Povos indígenas e africanos também contribuíram com o formato que vemos atualmente. A Bandeira de São João, procissão religiosa que aconteçe nas primeiras horas da noite percorrendo os bairros ao som de orquestras e instrumentos de percussão e levando uma bandeira com a estampa do santo é uma das mais antigas manifestações juninas do Brasil.

Segundo o coordenador do Desfile das Bandeiras, Marcelo Varela, o cortejo é um resgate cultural promovido pela Prefeitura. “São manifestações do nosso ciclo junino que têm aspecto religioso e profano e estavam se acabando por falta de segurança e motivação das quadrilhas. Fomos nas comunidades do Recife e verificamos que ainda existiam algumas e elas serviram de parâmetro para as outras. Hoje a proliferação das bandeiras é tão grande que não conseguimos atender a todas, mas estão aqui 90% delas”, afirmou.

O desfile reuniu as bandeiras São João da Várzea, São João do Menino, Santo Antônio de Água Fria, São José Lavrador, São João Bacnaré, Eu Quero é Mais, São João de Água Fria, São João do Arraial, São João da Carroça, São João do Carneirinho, São João Deveras, São Pedro Pescador, São João de Brasília Teimosa e São João do Pina.

Participaram ainda oito quadrilhas (Dona Matuta, Zabumba Raio de Sol, Junina Tradição, Sanfona Branca, Terror do Alto, Infantil Menezes e Infantil Olodum), além de cinco trios de forró (Veneno, Xumbrego, Forró do Luado, Matuto e Harmonia), as bandas juninas Mendes e sua Banda, Som Brasil e Asas do Forró e os grupos de dança Vovó Bibia, Coco Quebrado e Egídio.

O Mestre Ubiraci, da Bandeira de São João contou como o cortejo atravessou gerações em sua família. “É uma tradição centenária que foi passada pela minha bisavó, que já havia recebido da mãe dela. Trata-se de uma procissão  baseada no catolicismo rural, diferente do acorda povo, manifestação mais profana que acontecia após o cortejo”, explicou. O desfile também recebeu bandeiras de outros municípios pernambucanos como a Bandeira São João do Arraial, de Moreno. A diretora da bandeira, Dona Evanize Pereira, elogiou a iniciativa da Prefeitura de voltar a incentivar essa manifestação. “Acho maravilhoso a proposta da Prefeitura. Se não tivesse alguém pra resgatar esse cortejo, isso iria morrer”, afirmou.

Quadrilha e Circo - Com o fim do evento religioso, teve início a festa profana no Pátio de São Pedro, onde houve a apresentação de uma Quadrilha Circense que estreou na programação junina do Recife. Formada por dez pares de artistas circenses da cidade, entre tradicionais, trupes, artistas independentes e alunos de escolas de circo, a quadrilha trouxe para o público o universo do circo dentro de uma roupagem junina, com direito a coreografia do “serrote”  feita por artistas sobre pernas de pau e de um hilário casamento de anões. A apresentação ainda contou com mágicos e malabares.

“O circo é alegre e lúdico, de interação com o público e o ciclo junino tem muito disso. Inclusive as quadrilhas juninas têm vindo muito circense, já incluindo os pernas de pau”, comentou o organizador da quadrilha, Gilberto Trindade. Ainda no Pátio de São Pedro, a partir das 19h, sobe ao palco a banda Chamego da Terra, seguido de Chico Balla, Zé Calixto e Arlindo Moita.

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