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Cultura

RELAÇÕES ENTRE JORNALISMO E MEDIAÇÃO CULTURAL DISCUTIDAS NO MUSEU MURILLO LA GRECA
18:49 Quinta-feira, 25 de Novembro de 2010

Por Eva Duarte

Desde segunda-feira (22), o Museu Murillo La Greca, equipamento da Secretaria de Cultura / Fundação de Cultura Cidade do Recife, está abrindo suas portas para receber o seminário “Mapeando O Campo Artístico: o Lugar do Educador e Outros Lugares”. A atividade integra o programa de ações do Grupo de Pesquisa Experimental Sobre Arte Contemporânea do Museu, um projeto premiado pela 7ª edição do Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais. Cerca de quarenta pessoas estão participando da atividade, que acontece até o dia 26 de novembro sempre à noite.

No segundo dia de palestras, o tema foi “A relevância, a questão e o problema da imprensa e do público”. Para desenvolvê-lo, foram convidados os jornalistas pernambucanos Júlio Cavani e Olívia Mindêlo. Ambos se declararam como fruidores das artes plásticas e trouxeram impressões construídas a partir de suas experiências nos principais cadernos de cultura do Estado.

O jornalista mediador - Júlio Cavani trabalha no Diário de Pernambuco - DP há oito anos e vem acompanhando, desde antes, a produção artística não apenas no Recife, mas no Brasil e no mundo. Falou das relações entre jornalista e arte/educador na função de mediação entre a obra de arte e o público em formação. Foi prático e direto, descrevendo com clareza algumas das técnicas jornalísticas usadas para a cobertura de eventos em artes plásticas, destacando descrição, entrevista, interpretação, crítica e compilação de dados.

Para Cavani, existe uma crise na imprensa que tem como um dos sintomas a grande rotatividade nas redações, o que dificulta o processo de qualificação dos jornalistas para coberturas que ampliem o nível de informação do leitor e aprofundem reflexões. “A crise não é necessariamente ligada ao jornalismo cultural, mas afeta diretamente a cobertura das artes plásticas, que não têm uma indústria por trás, como existe nos casos do cinema e da música”, pensa Júlio.

Mas, para o jornalista, há luz no fim do túnel. No Viver, o caderno de cultura do DP, tem desenvolvido novas experiências para a cobertura das artes, acompanhando o processo de produção das exposições, o amadurecimento das ideias dos artistas e mapeando temas mobilizadores para o pensamento artístico.

Cavani explicou que a conquista de cada vez mais espaço no jornal é fruto de negociações diárias e usou um evento como exemplo: “O SPA das Artes foi fundamental para trazermos a arte para a primeira página do jornal. A intervenção urbana mexe diretamente com o cotidiano das pessoas. A arte invade o cotidiano”. O SPA das Artes é promovido desde 2002 pela Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura e Fundação de Cultura Cidade do Recife – FCCR.

O jornalista e o campo artístico - Para falar sobre a atuação do jornalista enquanto mediador, Olívia Mindêlo uniu sua experiência como repórter do Caderno C – Jornal do Commercio, onde publicou matérias de cultura durante cinco anos com ênfase na cobertura das artes visuais, com sua pesquisa em andamento no Programa de Pós-Graduação em Sociologia acerca do público das artes plásticas e sua relação com as obras.

Pierre Bourdieu é teórico fundamental para as reflexões de Olívia sobre o campo das artes plásticas. Mindêlo explicou que entre o artista e o público existem muitas camadas, organizadas de forma hierárquica e que apenas algumas detêm poder para produzir um discurso legítimo. Curador, instituição, mediadores, imprensa são camadas que interferem nas expectativas, levando o público a chegar às exposições com ideias preconcebidas.

Segundo a jornalista, gostos e opiniões são condicionados, inclusive os de quem faz a imprensa. “O jornalista na redação fica muito em função da agenda, sem tempo para refletir sobre o que está acontecendo ou para sugerir pautas. Terminamos caindo no senso comum”, conclui Olívia Mindêlo.

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